Nos últimos anos, a prisão de alguns vereadores parece se tornar rotina em Caruaru. Em 2004, durante a campanha eleitoral, o líder da oposição, o vereador Val (DEM), chegou a ser preso pela Polícia Federal sob acusação de compra de votos. Nada foi provado e ele disputou o pleito normalmente, vencendo as eleições e sendo reeleito como um dos mais votados.
Este ano, outro vereador, Jajá (PPS), foi preso sob acusação de ter comprado carro roubado e ter adulterado documentação para dar legalidade ao veículo. O pós-comunista integra o grupo de dez legisladores acusados agora pela Polícia Civil de ter cobrando propina ao prefeito José Queiroz (PDT) para aprovar, na Câmara, projetos de interesse do Executivo municipal.
Mas o caso que mais chamou atenção foi o do ex-prefeito e ex-presidente da Câmara Neguinho Teixeira. Ele foi condenado a 21 anos e quatro meses de prisão sob acusação de desvio de verbas, peculato, obstrução da Justiça e ameaça a testemunhas. Além disso, ele terá que pagar multa de R$ 527,4 mil.
Neguinho também teria contratado, na época em que presidia a Câmara, um doente mental para executar serviços de eletricidade. Segundo o pai do jovem, José Jerônimo Elias, a contratação teve um único propósito: ajudar o então presidente a receber mais dinheiro. As irregularidades foram constadas no período de janeiro de 2007 a março de 2008, quando ele comandava a Casa. Ele recorreu dessa e outras condenações, respondendo em liberdade. Atualmente, os recursos estão sendo analisados no Tribunal de Justiça de Pernambuco.
Teixeira que se tornou presidente da Câmara em 2006 e, no mesmo ano, foi flagrado em um passeio turístico em Buenos Aires, na Argentina, quando deveria estar participando de um congresso internacional de vereadores. Na época, ele disse “que era assim mesmo” – viajar com o dinheiro público em falsos congressos, usando diárias do Legislativo aleatoriamente.
“Basta entregar as notas”, disse Neguinho, na época, flagrado pela Rede Globo. Ele havia viajado com parentes. O processo de cassação chegou a ser aberto, mas não prosperou, porque o vereador, assim que chegou da viagem, devolveu o valor da passagem e das diárias aos cofres públicos, após a repercussão negativa.
Três meses depois, em março de 2007, ele assumiu a Prefeitura de Caruaru, com a renúncia do então prefeito Tony Gel (então no DEM, hoje deputado estadual e filiado ao PMDB), para se candidatar ao cargo de vereador. Gel já havia perdido seu vice, Roberto Liberato, que depois de eleito em 2004 preferiu se manter no cargo de deputado estadual. Como prefeito, Neguinho também foi acusado de uma série de irregularidades que vão desde o pagamento irregular a fornecedores a licitações fraudulentas.
Hoje, Teixeira atua no ramo de confecções e abandonou a política. Procurado, ele não atendeu as ligações.
ECONOMIA
Mas há também bons exemplos. O ex-presidente da Câmara Rogério Meneses (PT) ganhou notoriedade quando assumiu o Legislativo, entre os anos de 2009 e 2010, acabando com a verba indenizatória e devolvendo mais de R$ 1 milhão de economia aos cofres públicos, no primeiro ano. No ano seguinte, foram devolvidos mais de R$ 700 mil. Na época, a legislatura anterior vinha de uma série de denúncias sobre uso irregular das verbas de gabinete.
“Lamento o que está acontecendo na Câmara de Caruaru. Na verdade, gostaria que tudo fosse um engano da Justiça e todos saíssem livre”, disse o repentista Rogério Meneses – hoje sem mandato político – na última sexta-feira (20), ao comentar a situação política da Capital do Agreste.
Este texto foi escrito pelo jornalista Wagner Gil e publicado, inicialmente, no NE10 sob o título A rotina perversa na política de Caruaru.
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