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As fotos fraudadas eram compartilhadas em um grupo de aplicativo de mensagens WhatsApp, no qual estudantes da escola faziam parte (Rômulo Schwarzenegger/DP) |
“Ela está muito abalada, chorou bastante ao saber do caso. Não quero que ela fique constrangida e sofra com tudo isso”.
Essa é a frase do pai de uma das alunas de uma escola particular no Recife, que foi vítima de fraude de imagens em que adolescentes aparecem nuas.
O homem que preferiu não ter a identidade revelada conversou com exclusividade com a reportagem do Diario de Pernambuco, nesta terça (7).
Ele cobra reparação pelos danos emocionais e psicológicos causados à filha dele.
A jovem é uma das 40 alunas do Colégio Marista São Luís, no bairro da Boa Vista, na área Central do Recife, que denunciaram o caso à polícia.
O caso veio à tona após a Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) instaurar inquérito para investigar a denúncia coletiva.
As adolescentes, que têm entre 13 e 15 anos, afirmaram que estão sendo vítimas da adulteração de fotos que fazem ligação com conteúdos pornográficos e de nudez.
Entenda o caso
Segundo o pai de uma das vítimas, o grupo de alunos responsável pela fraude usou inteligência artificial para fazer a montagem.
Ele afirmou que o grupo foi identificado pela coordenação da escola e um dos envolvidos já solicitou o pedido de transferência.
“Os meninos já foram identificados. Os celulares de três deles foram apreendidos pela coordenação da escola. Solicitei à diretoria que os aparelhos fossem encaminhados ao Depai (polícia) para comprovar a ato infracional”, explicou o pai da estudante.
Como aconteceu
Ele explicou como foi que vazou as imagens que foram compartilhadas em um grupo de alunos por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp.
“Existe um grupo entre os alunos onde eles trocam mensagens. Dentre os estudantes, um deles tinha conhecimento de um aplicativo de montagem por meio de inteligência artificial. Sem má fé, acredito eu, começaram a trocar nudes de pessoas adultas e personagens”, disse.
O pai prosseguiu a explicação e disse que surgiu a idéia de replicar a imagem e mandar para colegas da sala de aula.
“Foram sugerindo as edições. Ele pegava as fotos nas redes sociais, fazia a montagem e depois jogava no grupo. Dito isso, no final de semana do feriadão, um dos alunos que não participa do grupo pediu que fosse compartilhada uma das imagens. Em seguida, esse menino compartilhou a imagem com outro aluno”, acrescentou.
Ainda segundo o pai de uma vítima, o outro menino teve a ação de denunciar o caso à coordenação da escola.
“No final os envolvidos ficaram temerosos com as imagens compartilhadas fora do grupo”, explicou o pai.
Alerta
Questionado se ele acredita que os alunos agiram de má-fé em relação ao compartilhamento e montagem de imagens falsas, o pai da vítima acredita que a conduta deles é de cunho machista e faz um alerta aos pais dos envolvidos.
“Vejo que não foi de má fé. Acredito que foi uma brincadeira machista. Ainda presente na cultura brasileira. Ainda são seres em formação. Eu penso que é necessário um alerta aos pais. Eu conversei com a coordenação e ressaltei que hoje vivemos um momento de empoderamento feminino, que valoriza o feminismo. Existe o culto do corpo feminino. É regra a mulher que é vítima de assédio sexual. É regra a mulher que é julgada por usar uma saia curta. É regra vítima de violência sexual. Portanto, isso é muito injusto e isso deve ser alertado aos jovens de hoje quebram esse paradigma e parem de achar que a mulher é apenas um objeto de corpo interessante”, destacou o pai da aluna.
Consequências
Ainda segundo ele, não pretende processar os pais dos alunos envolvidos pelas montagens, mas cobra uma reparação e pede que os alunos sejam advertidos de forma exemplar, sem medidas punitivas e sim educativas.
“Não tenho interesse em processar os pais dos alunos e tampouco o colégio. Eu tenho pena dos meninos, pois eles não imaginavam do dia pra noite terem que ser expulsos da escola, ou trocar de sala. Eu cobro que haja uma remissão, uma advertência do juiz, ou uma prestação de serviços. Que o promotor (Ministério Público) dê uma advertência para que sirva de aprendizado. Além disso, na minha visão, a medida mais pertinente é que os pais façam a transferência dos alunos. Não quero que eles sejam expulsos, execrados. Mas acredito que a coordenação chame os pais dos envolvidos e oriente a transferência. Caso contrário, se os meninos permanecerem na escola, eu que tomarei a iniciativa para transferir a minha filha”, enfatizou o pai da estudante.