O bilionário mexicano Ricardo Salinas, um dos homens mais ricos da América Latina, trava uma queda de braço com o Banco Central (BC). Há sete anos ele abriu o banco Azteca em Pernambuco. Seria sua plataforma de lançamento para todo o País, mas a aposta deu errado. Em maio do ano passado, cerca de 300 ex-funcionários do banco protestaram contra as demissões em massa na rede, denunciando atrasos nos pagamento e nas verbas rescisórias. Na época, a empresa garantiu a continuidade das operações da instituição, informando que apenas as lojas de móveis e eletrodomésticos Elektra, também integrantes do Grupo Salinas e que abrigavam as agências do Azteca, seriam fechadas.
Agora o empresário tenta fechar as portas do banco e deixar o Brasil, mas o BC só autoriza a saída se houver injeção de R$ 17 milhões para equilíbrio das contas. Segundo representantes do Azteca, há uma ameaça de intervenção. O banco alega que já devolveu aos correntistas 94% do dinheiro depositado em suas contas. Além disso, se compromete a quitar R$ 48 milhões que estão aplicados em investimentos financeiros.
Pelos planos do Azteca, o pagamento seria feito à medida que recebesse os empréstimos concedidos e que vencem até 2019. Para isso, manteria uma equipe no País. No dia 15 de dezembro, no entanto, o BC avisou formalmente ao banco que não concorda. Em nota à reportagem, o BC afirmou que ‘o cancelamento da autorização para funcionamento depende, dentre outros aspectos, do pagamento integral dos passivos’.
O Azteca foi lançado em Pernambuco em 2008, junto com a rede de lojas Elektra. O projeto era que banco e lojas aproveitassem o boom de consumo do Nordeste. O banco tinha apenas uma agência e pontos de venda dentro das 70 lojas que a Elektra chegou a ter no auge, em 2011. O Azteca financiava os clientes da rede e oferecia conta corrente, investimentos e cartão de crédito.
Mas o modelo, voltado para a população de baixa renda, não pegou. Ao mesmo tempo, dizem os mexicanos, o BC foi avisado de que o Azteca seria fechado. O banco afirma ter pedido autorização para vender a carteira de crédito, na época de R$ 80 milhões. O Azteca diz que tinha interessados, mas não fez negócio porque o BC nunca se manifestou.
Versões
O Azteca registrou suas queixas num ofício enviado ao BC. Em resposta, o BC afirmou - também numa correspondência - que só em 18 de novembro os mexicanos solicitaram formalmente permissão para encerramento das atividades. Antes disso, de acordo com o BC, o Azteca só havia manifestado intenção de fechar e “nenhum pleito foi formalizado”. Até outubro, “o Banco Azteca não possuía qualquer estratégia estruturada para embasar o pedido de cancelamento ao BC”, diz a autarquia. Ainda segundo o BC, “não procede qualquer afirmação” que possa sugerir ter havido “omissão” de sua parte.
Na semana passada, advogados do banco Azteca desembarcaram em Brasília em busca de uma saída negociada. Caso a intervenção se concretize, entrarão na Justiça. Em nota, o BC diz que “não se pronuncia sobre ações de supervisão em curso ou a serem tomadas”. Além do México, o Azteca opera em cinco países da América Latina e teme a repercussão internacional de uma eventual intervenção no Brasil.