Postado por Jeozivaldo Cesar
Flávio deu procuração à mulher, conforme documento enviado à Justiça Eleitoral, para assinar os cheques
Val é apontada pela IstoÉ como mais um dos elos do senador com milícias do Rio de Janeiro
Foto: Pedro França/Agência Senado
Estadão Conteúdo
Valdenice de Oliveira Meliga, irmã
dos milicianos Alan e Alex Rodrigues Oliveira, presos na operação
"Quarto Elemento" do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco) e do Ministério Público do Rio de Janeiro, assinou
cheques de despesas da campanha em nome do então deputado estadual e
atual senador, Flávio Bolsonaro (PSL), conforme reportagem da revista
Isto É publicada nesta sexta-feira (22).
A reportagem obteve dois cheques: um de R$ 3,5 mil e outro no valor
de R$ 5 mil. Dona de uma empresa de eventos, a Me Liga Produções e
Eventos, Val era uma das pessoas a quem o filho do presidente Jair
Bolsonaro deu procuração, conforme documento enviado à Justiça
Eleitoral, para cumprir a tarefa.
Val é apontada pela IstoÉ como mais um dos elos do senador com
milícias do Rio de Janeiro, com o suposto uso de laranjas e expedientes
na campanha para fazer retornar ao partido dinheiro do fundo partidário.
De acordo com a reportagem, um dos cheques assinados por Val, no valor
de R$ 5 mil, é destinado à empresa Alê Soluções e Eventos Ltda, que
pertence a Alessandra Cristina Ferreira de Oliveira. O pagamento seria
referente ao serviço de contabilidade das contas de Flávio Bolsonaro.
Ocorre, porém, que Alessandra era também funcionária do gabinete de
Flávio na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj), com um salário de R$
5,1 mil. Estava vinculada ao escritório da liderança do PSL na Alerj,
exercida por Flávio. E, na época da campanha eleitoral, exercia a função
de primeira tesoureira do partido.
Ainda conforme informações da Isto É, a primeira tesoureira do PSL,
ou seja, a pessoa a quem cabia destinar os recursos, fez, por meio de
sua empresa, a contabilidade de 42 campanhas eleitorais do PSL no Rio.
Ou seja: cerca de um a cada cinco postulantes a um cargo político do PSL
carioca deixou sua contabilidade aos serviços da companhia Alê
Soluções, empresa de Alessandra, tesoureira do partido. Assim, a
responsável por entregar e distribuir os recursos do partido tinha parte
do recurso de volta para as contas de uma empresa de sua
responsabilidade. Com preços abaixo da média do mercado, a companhia de
Alessandra recebeu cerca de R$ 55 mil das campanhas.
Administrador das contas de Flávio
Além disso, a reportagem informa que Alessandra atuou em conjunto com
o escritório Jorge L.A. Domingues Sociedade Individual de Advocacia,
que tem como um dos sócios o advogado Gustavo Botto. Na prestação de
contas à Justiça Eleitoral, Gustavo Botto também aparece como um dos
administradores das contas de Flávio Bolsonaro. No combo que coloca
Alessandra como contadora e Botto como advogado, estiveram 36 campanhas
do PSL na última eleição. Seus serviços também variaram entre R$ 750 e
R$ 5 mil. No total, renderam ao escritório R$ 38 mil.
Candidatos do PSL ouvidas pela revista relatam que, ao final,
praticamente os únicos gastos que efetivamente fizeram em suas
respectivas campanhas foram com a empresa de Alessandra e o escritório
de Botto.
Outro aspecto considerado estranho, de acordo com a revista, é que a
empresa Alê Soluções está localizada na Estrada dos Bandeirantes 11.216,
na Vargem Pequena, nos registros da Receita Federal, uma área de
milícias. Para o Tribunal Regional Eleitoral, no entanto, o endereço
anotado é Avenida das Américas número 18.000 sala 220 D, no Recreio dos
Bandeirantes - endereço da sede do PSL do Rio de Janeiro.
Situação semelhante acontece com o escritório Jorge L.A. Domingues
Sociedade Individual de Advocacia. Para a Receita, o endereço informado é
uma casa em Vila Valqueire. Para a Justiça Eleitoral, foi novamente a
sede do PSL do Rio. Por curiosidade, todos os endereços mencionados
ficam em Jacarepaguá, onde também mora o ex-motorista de Flávio
Bolsonaro, Fabrício Queiroz, diz a IstoÉ.
A revista apurou que, durante a campanha, a companhia Alê só
trabalhou na contabilidade dos candidatos. Entre maio de 2007 e agosto
do ano passado, a empresa emitiu 183 notas fiscais eletrônicas, conforme
os registros do número das notas concedido ao TRE - uma média de 16
notas por ano.
Somente durante a eleição foram 46 notas em 4 meses. Notas
sequenciais, o que indica o serviço exclusivo para as campanhas, diz a
reportagem. Apenas no dia do primeiro turno da eleição, 7 de outubro,
foram emitidas 18 notas fiscais entre as 21h31 e as 22h43. Uma média de
uma nota fiscal a cada 4 minutos. Houve caso de notas fiscais emitidas
em um tempo inferior a 2 minutos entre uma e outra.
Procurada pela Isto É, Alessandra Oliveira disse não enxergar
conflito ético no fato de ser ao mesmo tempo tesoureira do partido,
funcionária de Flávio Bolsonaro e ter contratado sua empresa para fazer a
contabilidade das campanhas. Gustavo Botto afirma que trabalhava de
fato na sede do partido para, segundo ele, "facilitar a administração e
resposta de eventuais comunicações processuais", diz a revista. A
assessoria de Flávio Bolsonaro ainda não se manifestou sobre o assunto.