Sergio Marchionne anunciou produção de mais 2 veículos na fábrica de Goiana (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Dois novos modelos serão produzidos na fábrica da Jeep em Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, nos próximos 18 meses. A informação foi dada pelo presidente-executivo mundial do grupo Fiat Chrysler (FCA), Sergio Marchionne, após a inauguração do empreendimento pernambucano, nesta terça-feira (28). No local já é fabricado o Jeep Renegade.
Marchionne não divulgou quais são os modelos. Ele explicou que o grupo está em processo de finalização do portfólio da América Latina. "A arquitetura do Renegade pode ser utilizada para 3 veículos. Um para a marca Fiat e outro da Jeep. Vamos ter que aguardar até mostrar o carro mais à frente", afirmou.
A expectativa é que o da Fiat seja uma picape "compacta média", ou seja, maior que a Strada e menor do que as picapes médias como Chevrolet S10 e Toyota Hilux. Um conceito desse porte,misturando picape e sedã, foi exibido pela Fiat no último Salão de São Paulo, em outubro passado. Questionado, Marchionne diz que não iria comentar.
Fiat FCC4, conceito de picape da marca italiana (Foto: André Paixão/G1)
Alfa Romeo é estudada
O executivo apontou ainda que há a possibilidade de o grupo FCA trazer a marca Alfa Romeo para o Brasil, mas não entrou em detalhes sobre quando ou como isso aconteceria.
"A Jeep é uma marca no nosso portfólio, junto com Alfa Romeo, com maior potencial de internacionalização. Michael [Manley, presidente mundial da Jeep] e eu concordamos que trabalhamos para preservar o DNA dessa marca e que se torne global", afirmou.
Dilma, o governador Paulo Câmara e o presidente-executivo do grupo Fiat Chrysler, Sergio Marchionne, durante cerimônia. (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
A fábrica
A inauguração da fábrica aconteceu no fim da manhã desta terça, com presença da presidente Dilma Rousseff. A produção local começou em fevereiro, com o SUV Renegade, que já está nas lojas. O local deverá gerar, até o final do ano, 9 mil empregos diretos e indiretos.
Essa é a primeira unidade fabril inaugurada depois da fusão global entre a italiana Fiat e a americana Chrysler, concluída em 2014 e que deu origem à FCA.
"Estamos celebrando um novo capitulo que liga o nosso grupo com o Brasil. É uma história de sucesso de quase 40 anos. Graças à união da Fiat com a Chrysler, de fato hoje estamos mais fortes e sobretudo estamos prontos para superar um novo desafio. Concretizar aqui em Pernambuco um grande projeto de desenvolvimento industrial e ajudar a Jeep a crescer e atingir um nível jamais alcançado", afirmou o presidente mundial da FCA, John Elkann.
Atualmente, há 5,3 mil pessoas trabalhando na nova planta e no parque de fornecedores, sendo 78% pernambucanos e 82% nordestinos. Segundo o grupo, a expectativa é de que, até o final do ano, o volume chegue a 3,3 mil pessoas empregadas na fábrica, 4,9 mil no parque de fornecedores e 850 em serviços gerais.
Segundo o grupo, o Renegade produzido em Goiana conta com mais de 70% de componentes nacionais: 40% vêm de fornecedores do entorno da fábrica.
A capacidade de produção é de 250 mil carros por ano, pico que só deve ser atingido no meio do ano que vem, quando 11 mil pessoas devem estar trabalhando em função da Jeep. A marca ainda não divulgou que outros modelos, além do Renegade, serão produzidos ali.
Marchione elogiou a equipe de brasileiros trabalhando na fábrica. “Uma revolução não se faz nunca de cima para baixo, se faz com a vontade e coragem das pessoas de mudar as regras do jogo. Na minha experiência pelo mundo, aqui em Pernambuco vi se realizar uma grande revolução. Acredito que em todas as histórias de sucesso, são as pessoas que fazem a diferença. Hoje celebramos o estilo de Pernambuco e não só o complexo industrial. Sem elas, esse projeto nunca teria sido realizado”, afirmou.
Ensinando o trabalho
Como muitos funcionários não tinham experiência no setor, foi montanda uma "miniplanta", onde os profissionais são treinados.
“Quando qualquer um de nós abre uma empresa, busca uma pessoa com experiência no setor. Mas assim você não gera tanta mudança social. Quando tira a (exigência de) experiência prévia, você permite que pessoas que trabalhavam em outros setores possam migrar. Buscamos o perfil comportamental, mais do que competências”, explica o diretor de Recursos Humanos para o Polo Automotivo Jeep, Adauto Duarte.
Expectativa é que o empreendimento esteja com 9 mil trabalhadores até o fim de 2015.
(Foto: Divulgação / FCA)
Mulheres
Através da identificação de perfil, a própria fábrica, em parceria com escolas técnicas, Serviço S e os governos federal e estadual, buscou capacitar a população. Foram feitas parcerias com oito instituições de ensino para oferecer qualificação voltada para o setor automotivo.
Além de uma maioria de moradores do entorno da fábrica, a empresa buscou trazer mulheres para compor o quadro de pessoal – 18% do efetivo atual é feminino.
A área da fábrica é de 260 mil metros quadrados. Junto dela fica o parque de fornecedores, que abriga 16 empresas em uma área 270 mil metros quadrados.
O início da construção foi em fevereiro de 2012, com a fabricação do primeiro veículo para venda tendo ocorrido 1 ano depois.
Construído de maneira modular, o layout da fábrica permite que ela seja ampliada de acordo com a demanda. "Temos capacidade de aumentar essa capacidade produtiva, para até 600 mil carros por anos. Essa é a planta mais avançada da FCA", afirma o diretor de Engenharia de Manufatura da Jeep em Pernambuco, Denny Monti.
Planta da Jeep foi pensada para gastar pouca energia e facilitar trabalho do funcionário.
(Foto: Katherine Coutinho / G1)
700 robôs
A fábrica em Goiana conta com 700 robôs, além de uma série de investimentos em tecnologia e também em ergonomia. Os carros, antes de estarem com as rodas, ficam suspensos em espécies de garras, nas quais eles podem girar e facilitar o trabalho dos funcionários.
O empreendimento foi pensado para economizar energia e já faz alguns testes para utilização de energia solar. “No Brasil, a energia solar ainda é um item caro. Na área de prensas, já temos placas de energia solar. No processo automotivo, essa planta já é uma das mais econômicas em energia”, aponta a gestora de Comunicação e Sustentabilidade, Rosangela Coelho.
A fábrica conta com duas linhas de prensas vindas do Japão. “São prensas de classe mundial, com 18 golpes por minuto. É muito rápida e automatizada. Graças a esse equipamento, podemos mudar em 4 minutos os moldes. Podemos, a cada quatro minutos, mudar nossa produção”, explica Denny Monti.
Linha de prensas japonesas agiliza trabalho na fábrica da Jeep. (Foto: Divulgação / FCA)
O empreendimento conta com um centro de componentes, também conhecido por área de metrologia. “Medimos sim as partes, mas também envolvemos nesse exercício todos os nossos fornecedores para melhorar continuamente a qualidade das peças”, detalha Monti.
Os robôs, presentes nos diversos setores, dão agilidade ao trabalho. Um dos exemplos são os braços mecânicos responsáveis por colocar a cola nos vidros, verificarem a situação da cola e em seguida aplicarem os vidros no carro correspondente. “Podemos produzir quatro modelos ao mesmo tempo na funilaria”, explica o diretor de Engenharia, destacando ainda que a solda também é feita no mesmo local por robôs.
Pintura
Outra inovação está na pintura, que deixa agora de lado o primer, produto químico que era utilizado para garantir uma melhor fixação da tinta. “Pela primeira vez estamos aplicando o ciclo compacto. Sem o primer, a vantagem é que a linha fica mais curta, consumimos menos energia e temos menos emissões de resíduos. Trata-se de uma solução 'verde'”, aponta Monti.
Ciclo compacto de pintura, sem utilização de primer, é uma das inovações da fábrica (Foto: Divulgação / FCA)
O diretor do parque de fornecedores, Alfredo Fernandez, destaca ainda que o layout da fábrica e do parque facilita a chegada dos materiais necessários na linha de produção. “Com esse modelo, temos uma área maior de integração dos fornecedores com a planta. Temos a criação e o compartilhamento de conhecimento e um processo de confiança mútua”, afirma Fernandez.
Sustentabilidade
A fábrica recicla e reusa 98% da água utilizada no processo industrial e pretende instalar um laboratório próprio para analisar a qualidade dos efluentes. O empreendimento investe ainda no replantio de espécies nativas da Mata Atlântica, que vão ocupar o jardim. “Já plantamos 38 mil mudas e vamos ter um viveiro aqui dentro. A cada três meses, teremos 25 mil mudas”, aponta Rosangela Coelho.