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O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) errou ao
divulgar, em 26 de março, que 65% da população concordava que "mulheres
que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". O Ipea
assumiu nesta sexta-feira (4), que houve falha e que o porcentual
correto de pessoas que concordam com essa afirmativa é de 26%. A
divulgação do dado, no final de maio, gerou ampla repercussão em
diversos segmentos da sociedade, repudiando que tamanha fatia da
população concordasse com essa afirmativa.
A repercussão da
pesquisa foi tão intensa que até mesmo a presidente Dilma Rousseff
pronunciou-se sobre o tema e demonstrou solidariedade à jornalista Nana
Queiroz, uma das organizadoras do movimento "Eu não mereço ser
estuprada", que se popularizou nas redes sociais nos últimos dias, após a
divulgação da pesquisa do Ipea.
O diretor de Estudos e
Políticas Sociais do instituto, Rafael Guerreiro Osório, pediu sua
exoneração assim que o erro foi detectado, informa o órgão. Na verdade, o
Ipea cometeu dois erros na divulgação da pesquisa. "Vimos a público
pedir desculpas e corrigir dois erros nos resultados de nossa pesquisa
Tolerância social à violência contra as mulheres, divulgada em
27/03/2014. O erro relevante foi causado pela troca dos gráficos
relativos aos percentuais das respostas às frases Mulher que é agredida e
continua com o parceiro gosta de apanhar e Mulheres que usam roupas que
mostram o corpo merecem ser atacadas", admitiu o órgão, que é vinculado
à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Para
a elaboração da pesquisa, foram entrevistadas 3.810 pessoas. Na
verdade, 58,4% dos brasileiros ouvidos afirmaram discordar totalmente da
afirmação "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser
atacadas". Fatia de 13,2% disse concordar totalmente e parcela de 12,8%
disse concordar parcialmente. "Corrigida a troca, constata-se que a
concordância parcial ou total foi bem maior com a primeira frase (65%) e
bem menor com a segunda (26%). Com a inversão de resultados entre as
duas questões, relatamos equivocadamente, na semana passada, resultados
extremos para a concordância com a segunda frase, que justamente por seu
valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação e
motivou amplas manifestações e debates na sociedade ao longo dos últimos
dias", cita a nota do Ipea divulgada hoje.
Outro erro envolveu a
frase "mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de
apanhar". Na verdade, nesse caso, 42,7% dos consultados disseram, nesta
versão corrigida da pesquisa, concordar totalmente; 22,4% afirmaram
concordar parcialmente. Fatia de 24% disse discordar totalmente e 8,4%,
discordar parcialmente. O Ipea cita que a "correção da inversão dos
números entre duas das 41 questões da pesquisa enfatizadas acima reduz a
dimensão do problema anteriormente diagnosticado no item que mais
despertou a atenção da opinião pública". Mesmo após a correção, o
instituto cita que "os demais resultados se mantêm, como a concordância
de 58,5% dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres soubessem
como se comportar, haveria menos estupros". A errata é assinada por
Rafael Guerreiro Osorio e Natália Fontoura, autores do estudo. O Ipea
afirma que as conclusões gerais da pesquisa continuam válidas,
"ensejando o aprofundamento das reflexões e debates da sociedade sobre
seus preconceitos".