O Ministério da Educação (MEC), comandando por 
Ricardo Vélez Rodríguez,
 enviou para todas as escolas públicas e privadas do país um e-mail 
pedindo para que, no primeiro dia de aula, "professores, alunos e demais
 funcionários da escola fiquem perfilados diante da bandeira do Brasil, 
se houver na unidade de ensino, e que seja executado o Hino Nacional". 
Além disso, o texto pedia para que fosse lida uma carta de Vélez que 
dizia o seguinte: "Brasileiros! Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e
 celebrar a educação responsável e de qualidade a ser desenvolvida na 
nossa escola pelos professores, em benefício de você, alunos, que 
constituem a nova geração. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!". A
 palavra de ordem no final da carta foi utilizada ao longo da campanha 
do presidente 
Jair Bolsonaro — já seu Governo adotou como slogan "Pátria Amada Brasil".
O e-mail e a carta foram primeiramente divulgados pelo jornal 
O Estado de S. Paulo, 
mas o MEC confirmou seu conteúdo ao EL PAÍS.
 Disse ainda que se tratava "um pedido de cumprimento voluntário" que 
faz parte "da política de incentivo à valorização dos símbolos 
nacionais". A mensagem ainda solicitava "que um representante da escola 
filme (pode ser com celular) trechos curtos da leitura da carta e da 
execução do Hino Nacional. E que, em seguida, envie o arquivo de vídeo 
(em tamanho menor do que 25 MB) com os dados da escola". As imagens 
deveriam ser enviadas para os correios eletrônicos da assessoria de 
imprensa do próprio MEC e da Secretaria Especial de Comunicação Social 
da Presidência da República.
Para Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em 
Políticas Educacionais da FGV e ex-secretária de Educação da cidade do 
Rio de Janeiro (2009-2014), o problema maior não é pedir que se cante o 
Hino Nacional. "Acho até positivo, faz parte da educação de um jovem a 
educação cívica — não como matéria. Quando eu fui secretária no Rio, a 
gente determinou que toda segunda-feira se cantaria o hino. Em vários 
municípios se canta o hino. Canta-se menos em escolas privadas que em 
públicas, não foi uma tradição que se perdeu", explica. Além disso, o 
Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou em 2009 
uma lei que obriga a execução do Hino uma vez por semana
 nos centros públicos e privados do ensino fundamental. "O que eu vejo 
de errado é associar cantar o Hino com um slogan de campanha", 
acrescenta Costin.
Outro problema que Costin enxerga é a solicitação para que alunos 
sejam filmados. "Todo educador sabe que para tirar fotos você precisa de
 autorização dos pais, porque são menores de idade. Isso demandaria uma 
logística um pouco complexa", argumenta. Já o MEC esclareceu que, "após o
 recebimento das gravações, será feita uma seleção das imagens com 
trechos da leitura da carta por um representante da escola. Antes de 
qualquer divulgação, será solicitada autorização legal da pessoa filmada
 ou de seu responsável".
Vélez é 
um dos ministros indicados por Olavo de Carvalho,
 guru da extrema direita brasileira. Ambos defendem acabar com uma 
suposta "doutrinação ideológica marxista" sobre os 48,6 milhões de 
estudantes matriculados nas escolas da educação básica e os 8,3 milhões 
de alunos do ensino superior (dados do último Censo Escolar, de 2017). 
Desde que foi empossado, Vélez já defendeu a volta da disciplina de 
moral e cívica no curriculum do ensino fundamental, para que os 
estudantes aprendam a ser brasileiros, retomem "valores fundamentais" e 
saibam quais são "nossos heróis". Ele chegou a dizer em entrevista à 
revista 
Veja que o brasileiro, quando viaja, "rouba coisas dos 
hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e
 pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na 
escola".
O ministro também já argumentou que a universidade "não é para 
todos", uma afirmação que causou alvoroço em um país que assistiu, nos 
últimos anos, políticas de inclusão social e racial nos centros de 
Ensino Superior públicos. "A Educação tem uma série de desafios. O que 
eu sinto é que estamos discutindo questões menos relevantes ao invés de 
fazer aquilo que é necessário para dar um salto de qualidade na 
Educação", opina Costin. "Isso demanda, por exemplo, melhorar a carreira
 do professor e trabalhar com as universidades para melhorar a formação 
do professor, e não de atos visíveis que não representam de verdade o 
que deveria ser feito", acrescenta.
Parlamentares de oposição vem argumentando que Vélez cometeu 
improbidade administrativa, um crime de responsabilidade. O deputado 
federal Marcelo Freixo (PSOL) anunciou que vai apresentar uma denúncia 
contra o ministro.