segunda-feira, 13 de agosto de 2012

De volta das cinzas » Arena pode ressurgir das cinzas


Movimento tenta criar um novo partido com perfil nacionalista e conservador. Há representantes em Pernambuco
Existem personagens e instituições que se perdem ao longo da história. Outros, no entanto, se perpetuam ou são resgatadas por grupos ou movimentos sociais. Como se mexessem em baús esquecidos nos porões da política brasileira, estudantes e intelectuais de todo o país pretendem trazer de volta a antiga Aliança Renovadora Nacional (Arena), legenda de maior importância dentro do regime militar brasileiro (1964-1985). Ações burocráticas, como registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já estão em andamento. Eles têm pressa e acreditam que falta espaço para a “verdadeira e autêntica direita” no cenário político nacional. O novo grupo tem representantes em mais de 10 estados do Brasil, inclusive, em Pernambuco. 

Depois de agendar um encontro, mesmo sem sucesso, numa universidade federal em greve no Recife, a geógrafa pernambucana Drielly Fonsêca, de 26 anos, aceitou responder alguns questionamentos da reportagem por e-mail. Ela conta que, inicialmente, a ideia não era de refundar a Arena, e sim, criar um verdadeiro partido político de direita, coisa que “anda em falta” no Brasil. “Os ideais que propõem resgatar o nacionalismo e o conservadorismo foram os principais fatores que me atraíram neste projeto. O nome não era ainda Arena, isso foi escolhido posteriormente por meio de votação entre as pessoas envolvidas”, conta.
Atual presidente do Senado, José Sarney, presidiu a Arena e foi eleito senador em 1970 e 1978 pelo partido. Foto: Jane de Araújo/Agência Senado (Jane de Araújo/Agência Senado)
Atual presidente do Senado, José Sarney, presidiu a Arena e foi eleito senador em 1970 e 1978 pelo partido. Foto: Jane de Araújo/Agência Senado
Cidadã de um estado que se orgulha de ter sido colônia holandesa (período do governo de Maurício de Nassau) e que chama de “Revolução” movimentos separatistas do século 19 que não propunham reformas sociais, como o fim da escravidão, Drielly também lança a sua polêmica. Ela separa o que era prática de estado e a prática política da velha Arena de 30 anos atrás. Ou seja, o partido de direita estava no governo, mas não cometia crimes como tortura ou perseguição a qualquer opositor. 

“Quando optamos por usar o nome Arena sabíamos que isso iria causar um certo desconforto em algumas pessoas. Sempre tive ciência que iriam taxar o novo Arena com o que o Arena foi no passado. O que as pessoas têm que entender é que o que aconteceu no passado foi de responsabilidade única e exclusiva do Executivo e Legislativo da época, o partido nunca teve autonomia para censurar ou torturar ninguém”, defende, citando que muitos colegas e curiosos estão com vontade de ingressar na empreitada. 

Ex-senador por Pernambuco, Marco Maciel foi indicado pela Arena para ser governador do estado em 1979. Foto: 
Roosewelt Pinheiro/ Agência Senado (Roosewelt Pinheiro/ Agência Senado)
Ex-senador por Pernambuco, Marco Maciel foi indicado pela Arena para ser governador do estado em 1979. Foto: Roosewelt Pinheiro/ Agência Senado
“Neo-arenistas” querem revisão histórica

E para começar o movimento, o grupo já investe nas primeiras tentativas de marketing. Na verdade, para eles, se trata de uma aula de “correção histórica”. Mesmo tendo sido fundada e colocando na sua carta de princípios o apoio à chamada Revolução Brasileira de 1964 (nome dado pelos militares para se referir ao golpe de estado), os neo-arenistas não querem e não fazem associação com o passado, pelo menos quando o assunto envolve temas mais delicados. Porém, um dos motes do grupo ainda é a velha bandeira de um estado forte, apesar de não intervencionista. 

A líder do novo partido, a estudante de direito da Universidade de Caxias, no Rio Grande do Sul, Cibele Bumbel Baginski, acredita o que a população, em geral, sabe sobre a Arena se trata de informações superficiais e resgatadas pelo senso comum. 
“A Arena que existiu era um partido conservador e nacionalista, e se posicionava assim. Claro, como na época a esquerda era a oposição, atualmente, é o inverso. O que faz mais falta nesse foco, eu diria, é a posição, realmente ideológica, e comprometida a seguir princípios e parâmetros. Infelizmente os partidos de hoje se movem pelo que chamo de ‘interessismo’”, critica a estudante.

Especialista em Arena e partidos políticos brasileiros, a professora do departamento do curso de história da Universidade Federal do Estado do Rio (Unirio) e autora do livro “Partido político ou bode expiatório, um estudo sobre a Aliança Nacional Renovadora (Arena) 1965-1979” Lucia Grinberg discorda da posição do grupo. Ela afirma que não se pode dissociar objetivos da Arena dos desejos dos militares. “No Documento Constitutivo da Arena consta como objetivo do partido ‘apoiar o Governo da Revolução’ e lutar pela consolidação dos ideais da ‘Revolução de Março de 1964”, atesta.

A autora também destaca que todos os governadores indicados pelos militares a partir de 1966 foram trazidos da Arena, além de práticas de tortura feitas à escondidas e possivelmente encobertas pelo partido. “Muitos parlamentares da Arena minimizaram as denúncias de violação de diretos humanos e que defendem as Forças Armadas. Em 1969, após o decreto do AI-5, o então senador Filinto Müller (Arena-MT), muito conhecido por ter sido Chefe de Polícia na ditadura do Estado Novo, tornou-se presidente do Diretório Nacional da Arena e líder do governo no Senado”, alfinetou.

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