Brasil começou a exportar ovos depois que a FDA autorizou compra de ovos in natura, reduzindo oferta no mercado interno, fazendo preço do ovo aumentar
Em janeiro deste ano, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) divulgou o balanço das exportações brasileiras de ovos, entre produtos in natura e processados, que totalizaram 18.469 toneladas em 2024, registrando uma queda de 27,3% sobre 2023.
No ano passado, tudo que o país ganhou vendendo ovos somou US$ 39,2 milhões, uma queda de 37,9% ante os US$ 63,2 milhões em 2023. No ano passado, o nosso maior cliente foi o Chile, com importações de 6.871 toneladas (+141,4%) sobre 2023 e os Emirados Árabes Unidos com 2.354 toneladas (alta de 108,7%).
Estados Unidos ficaram sem ovos
Mas tudo mudou, em janeiro, quando os Estados Unidos ficaram sem ovos devido a uma das maiores crises aviárias já enfrentadas pelo país, nos últimos 30 anos. E eles abriram uma oportunidade para os produtores brasileiros, que já em janeiro venderam 2.357 toneladas de ovos in natura, num aumento de 22,1%.
Na semana passada, por exemplo, a Granja Mantiqueira, a maior produtora de ovos da América do Sul, começou a exportar parte de sua produção para o país, tornando-se a primeira empresa brasileira a exportar ovos em casca para os Estados Unidos.
Isso foi possível depois que, na primeira semana de fevereiro, a Food and Drug Administration (FDA) liberou a exportação de ovos em casca do Brasil com destino à indústria de alimentos, o que inclui grandes redes de fast food.
E vender ovos para os Estados Unidos no atacado é um grande negócio. Mais de um terço (35%) de toda a demanda por ovos nos Estados Unidos vem da indústria de alimentos, que separa gemas das claras ou utiliza integralmente o produto na fabricação de bolos, tortas, massas e refeições prontas.
Apenas o McDonald's utiliza dois milhões de ovos por dia nos Estados Unidos no preparo de seus produtos.

Não é só culpa do milho
Isso quer dizer que, ao menos desta vez, não é o preço do milho que está fazendo os preços no varejo subirem e assustarem os consumidores, mas a exportação para os Estados Unidos, que fez o preço do produto disparar num efeito cascata decorrente das exportações feitas por produtores de São Paulo. Na verdade, o Brasil exporta apenas 1% de sua produção, mas o consumo per capita chega a 212 ovos por habitante por ano.
Para quem está acostumado com a informação de que o tempo de vida útil do ovo é de 20 dias a temperatura ambiente de 20 graus Celsius e até 30 dias na geladeira, pode parecer estranho que o Brasil esteja colocando ovos in natura em contêineres, mas é que se o ovo estiver refrigerado a 5 graus num contêiner, ele pode durar até 60 dias contando os 30 dias de viagem de navio para os Estados Unidos.
Essa súbita demanda pegou a indústria em tempos de atendimento normal, de modo que o ovo que está indo para os Estados Unidos e acabou faltando no mercado interno. Essa é uma situação sazonal, provocada por uma exportação que não deve durar o ano inteiro, mas que acaba interferindo no mercado interno.
O problema é que a exportação de ovos para os Estados Unidos provoca um efeito cascata, onde o atacado vai procurar ovos nos estados produtores. Ou seja, o atacado está comprando ovos para abastecer as regiões Sudeste e os primeiros estados onde eles buscam são Pernambuco e Ceará, o quarto e o quinto maior produtor de ovos brasileiros.
Pernambuco e Ceará não exportam ovos
Ou seja, Pernambuco e Ceará não exportam ovos para os Estados Unidos e são os maiores produtores do Nordeste, mas estão vendendo parte de sua produção para os estados que estão exportando, e isso acabou interferindo nos preços.
No Brasil, os líderes da produção avícola brasileira são São Paulo, em 1º, que é responsável por quase 30% da produção nacional; Minas Gerais, que produz mais de 10%; Espírito Santo, que contribuiu com 9,34%, Pernambuco, que é responsável por 7,89% da produção e o Rio Grande do Sul, com 5,73% da produção nacional. Em 2023, o país produziu 92 bilhões de ovos e abrigou nas granjas 1,4 milhão de aves.
Também no ano de 2023, o mercado sofreu com a chegada da Influenza Aviária no Brasil. A enfermidade foi registrada em aves silvestres (especialmente marinhas), além de três ocorrências em aves de subsistência. Mas a avicultura industrial do Brasil seguiu sem qualquer registro da enfermidade, algo digno de celebração pelo setor.
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