O secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, veterano na política e experiente na vida pública, cometeu um gravíssimo erro ao afirmar que libera o seu celular para os presidiários entrarem em contato com ele. Numa missão dificil e delicada, que vinha cumprindo tão bem, Eurico escorregou no verbo num momento infeliz, dando a impressão que foi vencido pela tensão e o estresse. Merecia um grande puxão de orelha do governador Paulo Câmara (PSB), que preferiu relevar.
Fora do território pernambucano, onde sua verborragia teve uma enorme repercussão, Pernambuco virou piada de mau gosto, Estado que passou a péssima impressão em que presos e quem cuida deles, na forma da lei, vivem uma relação promíscua e mal resolvida. Quanto mais Eurico se explica, mais se complica. Traído pela língua, nada do que tentou justificar pode ser compreensível.
Perdido feito cego em tiroteio diante dos holofotes, o secretário cometeu uma atrocidade verbal atrás da outra. Disse que o telefone estava à disposição dos detentos para que, dentre outras coisas, pudessem denunciar torturas. Com isso, convenhamos, o próprio secretário assume, mesmo sem ter esse objetivo, que o Estado é torturador. É o caminho da conclusão que se pode tirar do que falou de forma equivocada.
O governador compreendeu, entretanto, o contexto das declarações do secretário, adotando cautela e optando pela minimização do episódio, que acabou naturalmente tomando uma dimensão muito maior e mais explosiva na mídia e nas redes sociais. Não vi uma só alma viva, reproduzindo Lula, que não tenha tapado o nariz para os estapafúrdios do secretário.
Quando uma autoridade vem a público dizer, sem medir as palavras, que os presidiários têm o seu celular e ainda ligam a cobrar o tempo todo e a toda hora para ele, de dentro das suas celas, comete um ato criminoso. Está na lei – e o secretário sabe disso – que os detentos devem ficar incomunicáveis, sem direito a nenhum tipo de aparelho, muito menos celular.
As mais espetaculares fugas que ocorreram em presídios no País foram meticulosamente estudadas e planejadas com o uso do celular. Pernambuco não é uma ilha e não seria diferente. A revelação bombástica de Pedro Eurico, da sua relação de intimidade com os presos, querendo se apresentar diferenciado, abre um paradigma inapropriado para qualquer situação. Corre, infelizmente, o risco de entrar para a história como o secretário que instalou no Estado linha direta com os presos.
TIRE SUAS CONCLUSÕES– Veja o que disse Pedro Eurico, literalmente, numa audiência pública na Alepe: "Eu cometo hoje um ato irregular: dei meu celular em todas as cadeias. Eu não queria dar meu celular. Por que? Porque eu estou admitindo que presos usem o celular. Mas eu vou ser cínico? Eu vou mentir? O celular existe e está lá. E eu dei o meu celular e disse: liguem a cobrar. Quem sofrer tortura, quem sofrer vilipêndio, quem tiver informação para dar. E eles ligam. Minha mulher não aguenta mais, coitada, porque eles ligam até de madrugada. Mas tem que aguentar, porque essa é a minha missão".
Vai para o enfrentamento – Ao falar, ontem, da decretação de greve pela Polícia Civil durante o Carnaval, o governador Paulo Câmara (PSB) garantiu que a segurança será mantida. A paralisação, segundo ele, atende a interesses políticos, que promovem em "um desserviço à população". E completou: "A gente vai cumprir a nossa obrigação. Vai ter muita polícia na rua, Polícia Militar e as delegacias estarão abertas. Vamos oferecer as condições adequadas para o folião brincar, da forma que tem que brincar”.
Briga feia– O ponto crucial da greve da Polícia Civil está na paralisação do Instituto de Medicina Legal (IML). Os líderes do movimento já comunicaram que o departamento vai parar completamente. Como a incidência de crimes já é grande no Estado, numa festa prolongada como o Carnaval tende a triplicar o número de corpos encaminhados ao IML para perícia. A inclusão do IML reforça a tese de que os agentes querem radicalizar.
Dá para acreditar? – O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, anunciou, ontem, que a partir de 1º de março, a cobrança extra da bandeira tarifária, nas contas de luz, vai cair dos atuais R$ 3, da bandeira vermelha, para R$ 1,50, da bandeira amarela. Essa é a primeira vez desde a entrada em vigor do sistema, em janeiro de 2015, que a bandeira sai do vermelho, que indica que o custo da produção da energia no País está muito alto, para amarelo, que indica melhora nessa situação.
Previdência com rombo – Com um rombo de R$ 2 milhões, o Instituto de Previdência de Sertânia se transformou num poço sem fundo, sorvedouro do suado dinheiro dos servidores públicos municipais. Mas o presidente terá que dar explicações sobre a situação financeira da instituição à Câmara de Vereadores, conforme requerimento nesse sentido, de autoria do vereador Antônio Henrique (PSB), o Fiapo, apresentado na primeira sessão de reabertura dos trabalhos legislativos.
CURTAS
USO DE DRONE– Em Petrolina, o prefeito Júlio Lóssio (PMDB) vai usar um drone no monitoramento das áreas com maior circulação do mosquito da dengue. O equipamento foi ser utilizado em sobrevoo às residências dos bairros com maior índice de infestação do Aedes aegyptie, capturando as imagens dos criadores. “Temos que ganhar essa batalha contra o mosquito”, disse Lóssio.
RESSARCIMENTO – O líder do PP na Câmara, deputado Eduardo da Fonte, cobrou, ontem, à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que atue a favor da população pernambucana para que a Celpe seja obrigada a ressarcir não apenas os danos causados em eletrodomésticos, mas também em casos em que consumidores perderam alimentos em função do último apagão, ocorrido em várias regiões do Grande Recife, sexta-feira passada.
Perguntar não ofende: Quantos deputados trocarão de partido em Pernambuco com a promulgação da janela de infidelidade?
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