sábado, 4 de abril de 2015

Usa, explora e devolve

Marcus Eduardo de Oliveira

Da terra tiramos nosso sustento e à terra devolvemos dejetos do processo produtivo (resíduo, poluição, matéria dissipada). É exatamente assim que age o sistema econômico: usa e explora os limitados recursos naturais (input) e devolve lixo (output) à natureza.
Quanto mais crescimento (econômico), maior é a agressão (ambiental). Assim, aumenta a tensão entre essas correntes – economia/ecologia.
Esse processo é tão agressivo que, de acordo com estudos recentes, 60% dos serviços ecossistêmicos estão degradados. Por isso crescer economicamente acaba se tornando sinônimo de poluir assoberbadamente.
Dito de outra maneira: produzir é também sinônimo de destruir; nesse caso, a natureza. Não por acaso, a etimologia da palavra “consumir” (razão de ser do processo econômico produtivo) significa “destruir”.
Lamentavelmente, as economias modernas têm aperfeiçoado os mecanismos dessa destruição, esgotando em várias frentes o patrimônio natural (biomassa das florestas, solo arável, disponibilidade de água etc).
Desde as últimas seis décadas, esse crescimento econômico sem limites virou sinônimo de derrubar árvores, queimar florestas, aquecer o planeta, poluir o ar, a água e destruir os principais serviços ecossistêmicos (serviços de manutenção da vida no planeta).
Ao praticar essa depredação ecológica, agredindo a natureza na extração, produção e no consumo final, ao descartar resíduos e poluir o planeta, a economia mundial vêm contribuindo para que a qualidade da vida humana se dilua no ar.
Ao agir assim, a atividade econômica, conduzida pelos fiéis defensores do crescimento econômico como “receita” infalível de prosperidade, ignora dois importantes pontos: 1) a finitude da biosfera; e 2) os passivos ambientais decorrentes do rompimento dos limites impostos pela natureza.
É assim que se intensifica a agressão ecológica, agravando mais ainda a debilitada saúde do planeta Terra. Para conturbar um pouco mais esse candente confronto economia natureza, todo dia chega mais gente ao mundo, aumentando a pressão sobre o Planeta Terra.
A cada novo dia, 220 mil crianças nascem no mundo. Ao ano, são mais de 80 milhões de novos habitantes num planeta que não aumentará de tamanho. Em 2050, segundo todas as evidências demográficas, dividiremos o mundo (o mesmo espaço físico de sempre) com 9,5 bilhões de pessoas, aumentando consideravelmente a pressão por mais produtos, desequilibrando mais ainda o meio ecológico, provocando mais desigualdades socioeconômicas.
Atualmente, 20% da população mais rica do mundo utilizam ¾ dos recursos naturais, abocanhando 80% de toda a produção global, enquanto 1 bilhão de pessoas (14% da população mundial) dormem todas as noites com as bocas esfaimadas e os estômagos vazios.
Nesse conflito, os recursos naturais se exaurem, o planeta adoece e a vida se degrada. A agressão sobre o meio ambiente e os serviços ecossistêmicos é intensa.
Dois rápidos exemplos merecem menção: 1) os oceanos – o maior dos ecossistemas – em 2048, segundo dados da FAO/ONU, não nos fornecerão mais alimentos, dada à taxa de extração exagerada que vem sofrendo; e 2) Vinte e cinco por cento dos solos do planeta estão hoje degradados e a tendência é que isso aumente ainda mais nos próximos anos.
Na Carta da Terra, um dos mais importantes e sérios documentos elaborados pela inteligência humana, lê-se que “os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando”.
No visor do “relógio econômico”, os ponteiros marcam, ao longo dos tempos, um tipo de crescimento que é potencialmente “destruidor” da natureza. O momento exige uma só saída: abandonar definitivamente esse modelo econômico que transformou tudo em mercadoria, e desfigurou o semblante da Mãe Natureza.

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