A sonda Rosetta, vagando pelo espaço há uns 10 anos em busca do cometa 67P/Chryumov-Gerasimeko (ou 67P/C-G) finalmente está perto da parte mais eletrizante de sua jornada.
Relembrando rapidamente, a sonda Rosetta tem como missão principal o estudo do cometa 67P/C-G. Para chegar até ele, a sonda passou por longos 10 anos realizando manobras espaciais e durante boa parte desse tempo esteve em estado de hibernação para preservar seus instrumentos. A Rosetta carrega consigo um pequeno módulo de pouso, com um 100 kg de massa, que será lançado em direção ao núcleo do cometa e vai se ancorar com 3 estacas nele. Esse módulo se chama Filas e deve estudar e caracterizar as propriedades químicas, mineralógicas e físicas do material do núcleo. Mais do que isso, fazer este estudo conforme o núcleo vai se modificando e o cometa se aproximando do Sol!
Recentemente, a Rosetta mostrou que a atividade do cometa havia diminuído – como ele está se aproximando do Sol, esperava-se o contrário. A descoberta causou um certo desconforto no time da Agência Espacial Europeia (ESA) mas, por enquanto, a diminuição da atividade é uma boa notícia, já que facilita o mapeamento da superfície do núcleo, o que é necessário para encontrar o melhor local para o pouso da Filas. Quanto menos gás e detritos lançados no espaço, melhor será a visão da superfície.
Na quinta-feira (24), a ESA liberou uma série de imagens do núcleo do cometa, obtidas no último dia 20, que mostram sua topografia bem detalhada. As imagens foram obtidas a uma distância de 5.500 km (hoje a sonda já está mais perto ainda) e revela detalhes do núcleo que, há 3 semanas, se revelou um corpo duplo.
O cometa tem rotação de 12,4 horas, o que representa também um desafio a mais na hora de sincronizar a órbita da sonda com a posição de pouso da Filas. Com imagens obtidas a cada 2 horas, um modelo 3D foi construído com uma resolução de 100 metros por pixel. Apesar de impressionante, é muito pouco ainda para se determinar o melhor local para um pouso seguro. Para isso, a resolução precisa ser da ordem de metro por pixel, ou até melhor.
As imagens revelam crateras e regiões mais elevadas, parecendo com pequenos morros, o que lembra em muito a superfície do cometa 103P/Hartley. A parte mais lisa e clara da superfície é a do “pescoço”, ou a “ponte” que une os dois pedaços que formam o núcleo. Essa região da junção entre os pedaços do núcleo é onde está o centro de gravidade do sistema, o que explicaria o fato de haver dois tipos de materiais distintos, e de a superfície não ser tão irregular. É justamente nesse local que o material agregado pelo núcleo acaba se depositando preferencialmente. O terreno, além de tudo, deve ser bem mais jovem do que nas extremidades.
Como eu mencionei, a Rosetta continua se aproximando do núcleo e no dia 6 de agosto, novas imagens de alta resolução serão divulgadas. Essas imagens, sim, serão capazes de revelar detalhes da superfície do núcleo que vão determinar o melhor local de pouso para a Filas. Vamos aguardar!
Dica para o dia 30!
Na noite de 30 de julho, próxima quarta-feira, haverá o máximo da chuva de meteoros Delta Aquarídeos do Sul. Essa chuva é particularmente boa para os observadores do Hemisfério Sul que, neste ano, deverão se beneficiar da ausência da Lua, que estará em fase crescente, apenas 4 dias depois da Nova.
A taxa prevista é de 20 meteoros por hora, mas antes de ontem, enquanto eu observava Saturno no observatório da universidade, pude contar uns 5 meteoros em um intervalo de 20 minutos. Isso não significa que teremos um dilúvio de meteoros no dia 30, mas que parece ser uma noite promissora para quem quiser tentar.
Nesse caso as dicas são as seguintes: procure um lugar escuro, mas que seja seguro. O radiante, ou seja, o ponto de onde os meteoros parecem surgir está na constelação do Aquário. Ela já estará alta o suficiente por volta das 21 horas (horário de Brasília) na direção do Leste. Prefira olhar para o alto do céu, que é em geral a região mais escura e, portanto, onde os meteoros vão se destacar mais. Os que eu vi seguiram de leste para oeste, quase no zênite, o ponto no céu que fica exatamente na vertical. Uma boa dica para se evitar um torcicolo é usar uma cadeira de praia. Boa sorte!
* Imagem animada: ESA/Rosetta/MPS
Escrito por Cassio Leandro Dal Ri Barbosa no Observatório do G1
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