A Terra primordial não tinha óxido de molibdênio, mas Marte sim – logo, a vida surgiu em Marte e veio para a Terra a bordo de meteoritos desgarrados por algum impacto.
Esta é a ideia defendida pelo químico Steven Benner, do Instituto de Ciência e Tecnologia de Westheimer (EUA), em uma Conferência realizada nesta semana em Florença, na Itália.
Embora soe mirabolante, a proposta tem lugar para se encaixar nas discussões levadas a sério pelos cientistas, já que não há explicação razoável para a “auto-organização” dos elementos químicos que originaram a vida.
A proposta está longe de ser pioneira nessa área, uma hipótese conhecida como panspermia.
Uma equipe do MIT não apenas defende há anos que a vida pode ter começado em Marte, como também já está desenvolvendo um equipamento para tentar provar isto:
Em 2011, outra equipe encontrou indícios da emissão de nitrogênio por um meteorito primitivo – um meteorito não-marciano -, levando o grupo a defender que os meteoritos podem ter semeado vida na Terra, qualquer que seja sua origem.
Outro indício tem a ver com a quiralidade das moléculas. Todas as formas de vida que conhecemos utilizam somente versões canhotas dos aminoácidos para elaborar as proteínas – e os meteoritos têm mais aminoácidos canhotos do que destros em comparação com rochas da Terra.
A forma como átomos se juntaram pela primeira vez para formar os três componentes moleculares dos seres vivos – RNA, DNA e proteínas – sempre foi alvo de especulação acadêmica.
As “moléculas da vida” não são as mais complexas que aparecem na natureza, ainda assim não se sabe como elas surgiram. Acredita-se que o RNA (ácido ribonucleico) foi o primeiro a surgir na Terra, há mais de três bilhões de anos.
Uma possibilidade para a formação do RNA, a partir de átomos como carbono, seria o uso de energia (calor ou luz). No laboratório, no entanto, isso produz apenas alcatrão.
Para a criação do RNA, os átomos precisam ser alinhados de forma especial em superfícies cristalinas de minerais. Mas esses minerais teriam se dissolvido nos oceanos da Terra naquela época.
Por outro lado, moléculas essenciais à vida já foram encontradas “nas estrelas” – mais precisamente, a 26.000 anos-luz da Terra.
Em vez de meteoritos, outros pesquisadores sugerem que a vida pode ter começado no espaço e chegado à Terra em cometas.
Ou seja, na falta de explicação melhor, qualquer coisa que não envolva ETs ou metafísica é bem-vinda – além de permitir adiar a questão até que a ciência possa adquirir novos conhecimentos ou tenha mais elementos para encarar o problema com melhor embasamento.
Benner diz que os minerais necessários para catalisar a vida eram abundantes em Marte – logo, sugere ele, a vida teria surgido primeiro em Marte, seguindo para a Terra a bordo de meteoritos.
Meteoritos de Marte têm moléculas orgânicas, mas não biológicas.
Na conferência em Florença, o cientista apresentou resultados sugerindo que minerais que contém elementos como boro e molibdênio são fundamentais na formação da vida a partir dos átomos isolados.
Ele diz que os minerais de boro ajudam na criação de aros de carboidrato, gerando compostos químicos que são posteriormente realinhados pelo molibdênio. E assim surgiria o RNA.
O ambiente da Terra, nos primeiros anos do planeta, seria hostil aos minerais de boro e ao molibdênio.
“É apenas quando o molibdênio se tornam altamente oxidados que são capazes de influenciar na formação da vida”, disse Benner. “Esta forma de molibdênio não existia na Terra quando a vida surgiu, porque há três bilhões de anos a Terra tinha muito pouco oxigênio. Mas Marte tinha bastante.”
Segundo ele, isso é “outro sinal que torna mais provável que a vida na Terra tenha chegado por um meteorito que veio de Marte, em vez de surgido no nosso planeta”.
“Outro sinal” em relação à teoria de que, embora a água seja essencial à vida, o clima seco de Marte é que seria mais propício para o surgimento da vida – ainda que todos os estudos recentes patrocinados pela NASA defendam que o clima de Marte era muito diferente há três bilhões de anos.
“As evidências parecem estar indicando que somos todos marcianos, na verdade, e que a vida veio de Marte à Terra em uma rocha”, defende Benner.
“Por sorte, acabamos aqui – já que a Terra certamente é o melhor entre os dois planetas para sustentar vida. Se nossos hipotéticos ancestrais marcianos tivessem ficado no seu planeta, talvez nós não tivéssemos uma história para contar hoje,” ilustra ele.
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