Bugra foi candidata a depurada estadual pelo PR em São Paulo — Foto: Reprodução/TV Globo
Quase metade do orçamento de Bugra foi gasta em uma gráfica, a mesma
que o deputado federal Paulo Freire Costa usou em sua campanha. No muro
da casa da candidata, há um cartaz dela ao lado do então candidato, que
foi reeleito com mais de 100 mil votos.
Ainda segundo a promotora, primeiramente, é preciso analisar a
justificativa das candidatas pelo mau desempenho nas eleições, mesmo
tendo recebido altos valores de fundo partidário.
"Vamos fazer um aprofundamento do que foram as despesas delas. Se
constatarmos que houve irregularidades, as contas não são aprovadas,
elas não podem concorrer novamente e pode surgir uma série de coisas,
como instauração de inquérito policial e ação de improbidade
administrativa buscando devolução da verba. Uma investigação maior, até
no âmbito do partido, que teria sido o fraudador", diz.
A ex-candidata a deputada estadual pelo Pros Regiane Mara recebeu R$ 270 mil, mas gastou R$ 20 mil. Por telefone, ela disse à TV Globo que o dinheiro que sobrou foi para outras candidaturas, todas de mulheres.
Antoninha Pereira, ex-candidata pelo PR, usou cerca de R$ 30 mil da
verba eleitoral. Ela teve 60 votos e disse que, com parte do dinheiro,
contratou cabos eleitorais, mas que não teve controle sobre os gastos
com santinhos, em que aparecia sempre com o candidato a deputado federal
Antonio Carlos Rodrigues.
"Era o pessoal do meu advogado que resolvia tudo isso. Da gráfica, era
Antônio Carlos e eles que resolviam tudo isso para mim. Eu só tinha
mesmo o trabalho de contratar as pessoas para trabalhar para mim e
divulgar meu trabalho. Daí para trás, eles é que tomam contam disso aí,
não eu. Eu nem mexo em dinheiro, mexi mesmo no dinheiro que depositaram
na minha conta, eu tenho tudo documentado", diz.
Ela afirma ter se sentido lesada pela quantidade de votos que recebeu.
"Fiz pagamento em cheque, fotografei todos eles, trabalhamos para
caramba. Eu não estava esperando ganhar uma eleição, porque não sou
conhecida publicamente, mas 3 ou 4 mil votos, eu estava esperando. E aí
você recebe mínimo de votos, me senti lesada", afirma.
Em Mato Grosso do Sul, um dos casos que aparecem na Justiça Eleitoral é o da servidora pública Gilsy Arce, do
PRB.
Candidata a deputada estadual, ela recebeu do partido R$ 760 mil e
declarou gastos mais de R$ 360 mil com pessoal, que inclui cabos
eleitorais, e quase R$ 90 mil com materiais impressos, como santinhos.
Ela teve 491 votos.
O coordenador de campanha de Gilsy, Edson Bobadilha, disse por telefone à TV Globo
que a prestação de contas mostra que não houve irregularidades e que a
candidata tinha potencial para justificar o investimento do partido.
No Rio Grande do Sul, as contas de campanha da ex-candidata pelo PSL
Carmen Flores estão sob análise do TRE. Quarta colocada na eleição ao
Senado com 1,5 milhão de votos, a empresária recebeu R$ 200 mil de Fundo
Partidário. A filha dela, Maribel Lopes, alugou um imóvel e sublocou
para o partido, por seis meses, por R$ 40 mil. No local, funcionou o
comitê estadual do PSL.
Os móveis usados no comitê custaram R$ 34 mil e foram comprados numa
loja da franquia que pertence à própria Carmen. A conta de campanha da
candidata recebeu 66 depósitos sucessivos em dinheiro, três dias após o
fim do segundo turno da eleição. As operações somaram R$ 75.680 e foram
feitas na boca do caixa.
O advogado Lucas Ceccacci afirma que os móveis do comitê tiveram preços
abaixo de mercado, que o aluguel do imóvel ficou abaixo da média na
região e negou que houvesse irregularidades na campanha de Carmen.
"Seguiram orientação dos depósitos de pessoas físicas comuns, que a
legislação determina que qualquer pessoa física pode fazer a doação na
boca do caixa de até R$ 1.067. Foi uma opção, que por estar devidamente
registrada, está sendo reconhecida a origem. É uma questão de forma. Aí
vai da interpretação do tribunal ao analisar as contas dela", afirma.
O PRB do Mato Grosso do Sul declarou que cumpriu rigorosamente a
aplicação dos recursos e que a direção do partido viu potencial na
candidatura de Gilsy Arce.
O Democracia Cristã afirmou que, na próxima semana, vai ser reunir com o
presidente do partido na Bahia para esclarecer os fatos sobre o repasse
de dinheiro a candidatas.
O Pros, partido de Regiane Mara, disse que faz a doação de recursos a
candidatos com base em prospecções. Segundo a legenda, Regiane mandou
parte da verba que recebeu para 20 candidatas.
O PR, partido de Bugra e Antoninha Pereira e do deputado Paulo Freire
Costa, declarou que os repasses do fundo para os diretórios e legendas
foram feitos dentro da lei.
A assessoria do deputado Antônio Carlos Rodrigues (PR) também afirmou que os repasses foram feitos dentro da lei.