Fotos: Widio Joffre
                                                   
Roseane Oliveira (D) não olha para fotos da irmã, a engenheira Maria da Conceição, desde o acidente
  Na edição desta segunda-feira, a série de reportagens  sobre o um ano da tragédia com o avião da NoAr, em Boa Viagem, no  Recife, que matou 16 pessoas, mostra os traumas de quem perdeu um  parente no acidente. Os medos se multiplicam e o controle emocional  torna-se frágil. Na tentativa de minimizar esse drama, a Agência  Nacional de Aviação Civil (Anac) realizará, nesta segunda-feira, uma  reunião com a Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas da NoAr  (Afav/NoAr). O resultado desse encontro será publicado nesta terça-feira  (10).
No percurso da vida, o ser humano é forçado a adaptar-se a diversas  situações e, na maioria das vezes, é possível adequar-se a elas sem  maiores problemas. Mas quando a imposição do destino é dramática e vem  sem avisar, como no caso do desastre ocorrido no Voo-4896 da NoAr, é  preciso ser forte para segurar o turbilhão de sentimentos e de  novidades. Dor, pela morte de um ente querido; saudade, gerada pela  despedida; angústia, proporcionada pela busca desenfreada da justiça.  Tudo isso junto, por mais que a pessoa seja controlada, vai gerar danos  psicológicos e com eles surgem os traumas.
Com os parentes das vítimas do acidente aéreo envolvendo o avião da  NoAr não é diferente. Diante do baque de perder um familiar de repente,  algumas pessoas desenvolveram problemas psicológicos. Só na casa da  engenheira Maria da Conceição Oliveira, pelo menos cinco pessoas recebem  acompanhamento de um psicólogo e uma delas também é tratada por  psiquiatra. “Desde o acontecimento não olho fotografias da minha irmã.  Ainda não me acostumei com a ausência dela. Entre os que perderam entes  queridos, tem gente até com depressão profunda. Existem diversos  sintomas que só estão aparecendo agora”, disse Roseane Oliveira, irmã da  vítima.
Mesmo evitando as fotos, a professora Roseane não consegue escapar de  outras lembranças que a machucam. “Sempre que tenho que mexer em  documentos pessoais dela ou nos que remetem ao acidente, sinto-me mal. É  complicado viver dessa forma. Éramos muito apegadas. Costumo falar que  ela era minha ‘marida’”, disse. A matriarca dessa família, de 81 anos,   apresenta sintomas ainda mais sérios que os da filha. “Após a tragédia,  minha mãe precisou ser submetida a uma cirurgia cardíaca. Agora, quase  um ano depois, está perdendo a voz. O médico nos falou que fisicamente  ela não tem nada. É tudo psicológico. Mamãe perdeu três filhos em  acidentes, sendo um de carro, outro de choque elétrico e mais  recentemente, na queda do avião”, contou.
O drama dos familiares também se renova quando eles precisam viajar  de avião, e quando conseguem. “Depois de vivenciar e sofrer o que  aconteceu com minha irmã, não voei mais. As pessoas me chamam, mas não  sinto segurança”, contou Roseana. A mãe do cirurgião-dentista Raul  Farias, outra vítima do acidente, Taciana Guerra Farias, também tem  problema ao entrar na aeronave. “Nos primeiros minutos que estou lá  dentro, na hora da decolagem, passa um filme na minha cabeça. Imagino os  momentos angustiantes que meu filho viveu”, disse ela, ao relembrar que  aquela viagem foi interrompida com a queda, ocorrida cerca de quatro  minutos após a decolagem.