Conselho Regional de Enfermagem fez vistoria em hospital e constatou diversos problemas que já haviam sido listados em relatório do mês de maio, como falta de medicamentos e materiais guardados em locais inadequados.
Por Camila Torres, TV Globo
Acompanhantes de pacientes que estão internados no Hospital Barão de Lucena, na Zona Oeste do Recife, denunciam falta de medicamentos e de materiais básicos, como algodão. O Barão de Lucena é uma das unidades de saúde de alta complexidade de Pernambuco, onde são realizadas cirurgias de grande porte, com leitos de UTI e para tratamento de doenças como o câncer, além de atendimento de maternidade.
A paciente Maria Lusitânia fez quatro, das seis sessões de quimioterapia previstas no tratamento contra o câncer. Apenas em uma delas foram usadas as duas medicações prescritas pela médica: Taxol e Carboplatina.
“Ela tá fazendo o tratamento pela metade. Nunca tá completo. Isso me causa uma revolta muito grande porque todos os dias eu vejo como se a minha mãe tivesse menos dias de vida. Ela não tá sendo assistida como merece. A gente paga nossos impostos e a gente não consegue obter o que o estado deveria cumprir como obrigação”, reclamou a promotora de vendas Moysa Tavares, filha de Maria Lusitânia.
O Hospital Barão de Lucena também oferece o serviço materno-infantil de alta complexidade, que também tem enfrentado problemas. As mães de bebês prematuros internados no local dizem que faltam remédios na UTI dos recém-nascidos e materiais de uso rotineiro no cuidado com os pacientes.
“Assim que ela nasceu, ela contraiu uma infecção pelo umbigo e teve que fazer vários antibióticos; e tinha um frasquinho que eles fazem um exame de sangue específico, para saber qual é o tipo de bactéria e qual tipo de antibiótico ela precisa tomar. Os profissionais diziam: ‘a gente está às cegas, botando remédio pra ver qual vai servir pra ela, até a gente ver que ela está reagindo bem”, contou a auxiliar de escritório Vitória Queiroz sobre a filha, que está internada no Hospital Barão de Lucena.
Durante a entrevista à TV Globo, Vitória Queiroz revelou que compra pomadas, fraldas e que o hospital tinha acabado de pedir para comprar algodão, que seria usado para higienizar a filha.
A dona de casa Ana Kelle Maria Clemente disse que o remédio que a filha está usando para o problema respiratório também está sendo comprado pela família.
Fiscalização encontrou problemas registrados há cinco meses
Fiscalização do Coren no Hospital Barão de Lucena constatou materiais armazenados em locais impróprios — Foto: Reprodução/TV Globo
A equipe de fiscalização do Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco (Coren) esteve nesta segunda (20) no hospital. Os fiscais foram à UTI Neonatal, à Emergência Pediátrica e ao Centro Obstétrico e encontraram diversas irregularidades. Muitas delas já havia sido identificadas num relatório encaminhado ao Ministério Público pela entidade há cinco meses.
Entre os problemas constatados estavam:
- Materiais cirúrgicos colocados numa prateleira dentro de um lavabo interditado;
- Produtos esterilizados guardados em gavetas baixas, num armário danificado, muito perto do chão, com risco de contaminação
- Mofo no teto, perto de aparelhos de ar-condicionado.
Em maio de 2023, o Coren fez um relatório com uma lista de 26 itens que estavam em falta na unidade hospitalar. Entre eles, filtro de respirador, sonda, paracetamol (remédio para dor), xylocaína (pomada para anestesia local). O documento foi enviado para o Ministério Público e para a Secretaria Estadual de Saúde.
A vistoria desta segunda apontou que os problemas persistem.
“Vamos atualizar o relatório, encaminhar para o Ministério Público, e solicitar providências do Ministério Público, porque há cinco meses encaminhamos [o relatório] e nada foi retornado para o Coren. Queremos entender por que isso ainda continua dessa forma. E com relação ao déficit de pessoal, possivelmente iremos entrar com uma Ação Civil Pública”, disse a chefe da fiscalização do Coren, Ivana Andrade.
O que dizem o Ministério Público e a diretoria do hospital
A TV Globo procurou o Ministério Público, que informou que acompanha o desabastecimento de medicamentos e materiais no Hospital Barão de Lucena desde o ano passado, por meio de um inquérito civil.
O MP disse também que recebeu nesta segunda um documento do Hospital Barão de Lucena, com uma lista de medicamentos e materiais que estão em estado crítico de estoque e que vai agendar uma audiência com a direção do hospital para tratar desse assunto.
Já a direção do Hospital Barão de Lucena informou que faz um planejamento para atender às necessidades do hospital, mesmo que acima da capacidade.
De acordo com a direção da unidade, os materiais básicos estão em processo de compra emergencial e sendo remanejados de outras unidades da rede estadual de saúde para garantir a assistência.
O hospital disse também que a equipe de enfermagem trabalha com plantões extras e seleção simplificada para não comprometer os atendimentos e a assistência aos pacientes.
O Hospital Barão de Lucena é referência no tratamento de crianças e bebês (imagem de arquivo) — Foto: Reprodução/TV Globo
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