Roberta Soares betasoares8@gmail.com
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Um elefante branco enorme,
caro e que se deteriora a olhos nus. Enquanto a Região Metropolitana do
Recife explode em rebeliões, mortes de presos e até da polícia, o
complexo prisional de Itaquitinga, na Zona da Mata Norte de Pernambuco,
se estraga no meio da cana-de-açúcar. Um monstro imponente e abandonado,
ignorado por todos, apesar do valor de R$ 350 milhões previsto para sua
construção. Nem de longe lembra o megaprojeto para o sistema prisional
do Estado, divulgado com pompa pelo governo de Pernambuco e que
encontra-se quase pronto, mas com as obras paralisadas desde agosto de
2012, ou seja, há dois anos e meio. Uma grande estrutura que, se
estivesse concluída, poderia ao menos aliviar o déficit de vagas do
sistema carcerário pernambucano, hoje estimado em 20 mil vagas.
O governo do Estado promete retomar as
obras, garante que a decisão política foi tomada pelo governador Paulo
Câmara, mas não dá prazos. A mesma promessa que foi feita no início do
ano passado pelo então secretário da Fazenda, Paulo Câmara, mas já quase
candidato ao governo do Estado. De lá para cá só uma coisa mudou: a
deterioração do complexo de Itaquitinga aumentou. A reportagem do JC
voltou à unidade para confirmar o que já tinha sido denunciado diversas
vezes. A situação é de dar pena. A vegetação tomou conta de tudo. Subiu
pelos telhados, pelas grades que circundam a ampla construção, erguida
para ser uma imponente estrutura carcerária, com capacidade para 3.126
detentos, divididos em três presídios de regime fechado e dois do
sistema semiaberto. Uma unidade de primeiro mundo, onde, ao menos no
projeto, os detentos seriam, de fato, submetidos a um processo de
ressocialização. Um lugar de onde sairiam melhores do que entraram. Onde
teriam condições dignas de acomodação – não seriam amontoados em celas
que mais lembram jaulas – e infraestrutura de trabalho, oferecida num
complexo industrial com variadas e pequenas empresas.
Mas tudo
isso está sendo corroído pela chuva e pelo tempo. E o que mais incomoda é
que, segundo ex-funcionários das empresas que compõem a parceria
público-privada (PPP), modelo no qual a iniciativa privada é responsável
por construir e operar o projeto, sob fiscalização do poder público – o
complexo poderia ficar pronto em, no máximo, seis meses, se as obras
fossem retomadas. “A parte do regime semiaberto está com 90% das obras
concluídas, enquanto a do regime fechado tem 70%. Com vontade política
de fazer, entre quatro e seis meses tudo ficaria pronto. O governo
também poderia iniciar a operação fracionada, o que já aliviaria a
situação das prisões da Região Metropolitana do Recife, que nos últimos
dias sofreram com rebeliões”, afirma Antônio Carlos Condado, um dos 302
fornecedores do complexo que lutam há dois anos e meio para receber
passivo de R$ 30 milhões.
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