NUNO PACHECO
Ney Matogrosso está de volta aos palcos portugueses com Atento aos Sinais, um trabalho que celebra novos compositores, misturando exuberância e lucidez. Nos coliseus, hoje e amanhã em Lisboa, e dia 10 no Porto
Depois do afirmativo recolhimento de Beijo Bandido, Ney Matogrosso volta à exuberância visual e sonora com Atento aos Sinais, quarta e quinta-feira no Coliseu de Lisboa e sábado 10 no Coliseu do Porto, sempre às 22h. Prestes a completar 73 anos, a 1 de Agosto, prova que continua mesmo atento aos sinais, do Brasil e do mundo. E as revoltas populares por causa do Mundial ressoam, de algum modo, na sua voz.
Este seu trabalho é um dos casos, raros, em que o espectáculo nasce antes do disco…
É. Primeiro eu tive o repertório todo, depois fiz o show durante uns quatro, cinco meses e no fim seleccionei das dezanove do show catorze para o disco.
É. Primeiro eu tive o repertório todo, depois fiz o show durante uns quatro, cinco meses e no fim seleccionei das dezanove do show catorze para o disco.
Quando imaginou o espectáculo, o que diz dizer às pessoas com ele?
Eu estou apresentando cinco artistas brasileiros novos, cinco bandas novas, cantando composições deles. Isso, para mim, acabou por ser o foco do trabalho. No disco, eu privilegiei os novos compositores. No show eu canto, por exemplo, Caetano Veloso, que não está aí, e tenho outras músicas.
Eu estou apresentando cinco artistas brasileiros novos, cinco bandas novas, cantando composições deles. Isso, para mim, acabou por ser o foco do trabalho. No disco, eu privilegiei os novos compositores. No show eu canto, por exemplo, Caetano Veloso, que não está aí, e tenho outras músicas.
Como é que descobriu esses novos compositores?
De várias formas. Quando viajo pelo Brasil, eles vão-me dando gravações. O Vítor Pirralho, por exemplo, descobri-o em Maceió, Alagoas. O hotel deixou-me um jornal no quarto e eu vi que tinha uma página inteira sobre um rapper alagoano. Aí, eu fiquei muito interessado, liguei para a produtora local e disse que gostaria ter o disco. Para minha surpresa, duas horas depois estava ele e a mulher dele no meu apartamento (eu ia embora duas horas depois) e eu gostei muito da música dele. Essa música que eu gravei [Tupi Fusão] faz parte de um disco específico, onde o tema é a chegada do português ao Brasil. E é a visão do índio. Quando falo em “sardinha no cardápio”, é o bispo Sardinha.
De várias formas. Quando viajo pelo Brasil, eles vão-me dando gravações. O Vítor Pirralho, por exemplo, descobri-o em Maceió, Alagoas. O hotel deixou-me um jornal no quarto e eu vi que tinha uma página inteira sobre um rapper alagoano. Aí, eu fiquei muito interessado, liguei para a produtora local e disse que gostaria ter o disco. Para minha surpresa, duas horas depois estava ele e a mulher dele no meu apartamento (eu ia embora duas horas depois) e eu gostei muito da música dele. Essa música que eu gravei [Tupi Fusão] faz parte de um disco específico, onde o tema é a chegada do português ao Brasil. E é a visão do índio. Quando falo em “sardinha no cardápio”, é o bispo Sardinha.
O refrão é um apelo e uma declaração: “Nobres no convés e os negros no porão/ Conte de um até dez e prenda a respiração/ Quem controla o passado/ tem o futuro à mão/ Conheça sua história, não durma, irmão”. O Brasil olha para o passado?
Não, ninguém olha para o passado, ninguém está interessado. No Brasil os políticos, com raras excepções, só estão interessados em dinheiro, em encher os seus bolsos.
Não, ninguém olha para o passado, ninguém está interessado. No Brasil os políticos, com raras excepções, só estão interessados em dinheiro, em encher os seus bolsos.
Neste seu trabalho sente-se muito o Brasil de hoje, os choques, as contradições…
Em Rua da passagem [tema que abre o disco, de Arnaldo Antunes e Lenine] isso é intencional. Começa a falar do trânsito e acaba falando em muitas outras coisas. Agora em Incêndio [segundo tema, de Pedro Luís] eu estava me referindo ao mundo, à Primavera Árabe, e de repente… Eu comecei a cantar esse repertório em Fevereiro de 2013 e os acontecimentos no Brasil foram em Junho. Então ele é muito contemporâneo.
Em Rua da passagem [tema que abre o disco, de Arnaldo Antunes e Lenine] isso é intencional. Começa a falar do trânsito e acaba falando em muitas outras coisas. Agora em Incêndio [segundo tema, de Pedro Luís] eu estava me referindo ao mundo, à Primavera Árabe, e de repente… Eu comecei a cantar esse repertório em Fevereiro de 2013 e os acontecimentos no Brasil foram em Junho. Então ele é muito contemporâneo.
Como é que você olhou para esses sinais de revolta no Brasil?
Achei que tinham razão. O Brasil está gastando bilhões para fazer essa Copa [o Mundial de Futebol], todos os estádios dobraram e triplicaram de preço, mas a saúde é uma vergonha, está lastimável, cada vez pior; a educação é zero, nessas coisas internacionais que medem a educação no mundo o Brasil vem em cento e tal, no rabo da história; a polícia cada vez mais assassina, mais violenta… Então eu tenho que falar disso!
Achei que tinham razão. O Brasil está gastando bilhões para fazer essa Copa [o Mundial de Futebol], todos os estádios dobraram e triplicaram de preço, mas a saúde é uma vergonha, está lastimável, cada vez pior; a educação é zero, nessas coisas internacionais que medem a educação no mundo o Brasil vem em cento e tal, no rabo da história; a polícia cada vez mais assassina, mais violenta… Então eu tenho que falar disso!
Na altura, quando se fez campanha pela Copa, você foi contra?
Não, eu não sou contra. Sou é contra a maneira como estão fazendo. Porque tudo é padrão FIFA. Ora para nós, brasileiros, o padrão é zero, não tem padrão FIFA, é padrão favela. Mais: diariamente a polícia assassina pessoas – pretas e pobres. Continuamos então… “conte de um e até dez e prenda a respiração” [cita parte do refrão da canção de Vítor Pirralho], porque os negros estão no porão ainda.
Não, eu não sou contra. Sou é contra a maneira como estão fazendo. Porque tudo é padrão FIFA. Ora para nós, brasileiros, o padrão é zero, não tem padrão FIFA, é padrão favela. Mais: diariamente a polícia assassina pessoas – pretas e pobres. Continuamos então… “conte de um e até dez e prenda a respiração” [cita parte do refrão da canção de Vítor Pirralho], porque os negros estão no porão ainda.
Neste espectáculo você voltou à exuberância e ao rock. Achou que eram as linguagens visuais e musicais certas para o que pretendia dizer?
Claro, eu queria isso. Eu tinha acabado de fazer durante três anos o Beijo Bandido, muito p’ra dentro, e agora queria uma coisa p’ra fora.
Claro, eu queria isso. Eu tinha acabado de fazer durante três anos o Beijo Bandido, muito p’ra dentro, e agora queria uma coisa p’ra fora.
É curioso que desde o ano 2000 você tem intercalado, sem excepção, espectáculos de maior recolhimento com outros de assumida exuberância. Tornou-se regra…
É, porque quando fico muito tempo fazendo uma coisa eu tenho necessidade da outra.
É, porque quando fico muito tempo fazendo uma coisa eu tenho necessidade da outra.
Como é que Atento aos Sinais foi recebido na estreia?
Estreei a 28 de Fevereiro de 2013 em Juiz de Fora [Minas Gerais], em seguida em São Paulo e Rio de Janeiro. Foram totalmente abertos e receptivos para um repertório 80 por cento inédito. Não houve nenhum estranhamento, nenhuma reclamação.
Estreei a 28 de Fevereiro de 2013 em Juiz de Fora [Minas Gerais], em seguida em São Paulo e Rio de Janeiro. Foram totalmente abertos e receptivos para um repertório 80 por cento inédito. Não houve nenhum estranhamento, nenhuma reclamação.
Desde essa altura sentiu alguma necessidade de mexer no alinhamento?
Andei mexendo e agora voltou todinho como ele era. Porque tinha uma troca de roupa no final que eu achei excessiva, mas acontece que as músicas são tão boas que recoloquei tudo como estava. Porque acho que vale a pena, pelas músicas.
Andei mexendo e agora voltou todinho como ele era. Porque tinha uma troca de roupa no final que eu achei excessiva, mas acontece que as músicas são tão boas que recoloquei tudo como estava. Porque acho que vale a pena, pelas músicas.
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