segunda-feira, 28 de abril de 2014

Na Buenos Aires pernambucana, torcida deverá se dividir na Copa

Cidade fica a 80 km de Recife e também conta com Boca e River Plate.

Homônima da capital argentina, ela guarda referências pelas ruas.

Katherine CoutinhoDo G1 PE

José Paulo Araújo une a paixão pela Argentina ao trabalho (Foto: Katherine Coutinho / G1)José Paulo Araújo une a paixão pela Argentina ao trabalho (Foto: Katherine Coutinho / G1)

O Brasil também tem a sua Buenos Aires. Localizada na Mata Norte de Pernambuco, a mais de 4 mil km da capital argentina, a cidade, acessada pela BR-408, é uma das homônimas "famosas" do país, que conta ainda com uma Nova Iorque (MA) e uma Barcelona (RN).
Com quase 13 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade pernambucana tem em comum com a capital sul-americana a paixão pelo futebol, com direito a versões próprias dos times Boca Juniors e River Plate. Na Copa do Mundo, a confusão será armada: parte da população torcerá pelo Brasil, parte pelos "hermanos".

A paixão só fez crescer ao longo dos anos. Dedicando-se à loja e ao time, Araújo se orgulha de já ter 30 jogadores na equipe de adultos, cerca de 70 crianças na escolinha de futebol, além de um time feminino. “A vontade dos jogadores argentinos é algo que inspira. O Brasil toma um gol, começa a desistir; os argentinos, não. Eles lutam até o fim”, avalia Araújo.
As referências ao futebol estão em toda a parte. Próximo a prefeitura, é fácil encontrar a Locadora 'Boca Juniors’. De camisa da Argentina a bandeiras e lembrancinhas, o comerciante José Paulo Araújo leva para o trabalho a paixão pelo clube. Ele também é presidente do Boca Juniors pernambucano, fundado em 2001. “A gente tinha um time de futebol de salão, mas não tinha nome. Resolvemos escolher entre Boca Juniors e River Plate. Só deu Boca”, recorda.
Jadiel Felipe tem coleção de camisas e bandeira da Argentina (Foto: Katherine Coutinho / G1)Jadiel Felipe tem coleção de camisas e bandeira da
Argentina (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Já o presidente do River Plate pernambucano, Jadiel Felipe, carrega o amor pela seleção do país vizinho desde a Copa do Mundo de 1986, quando a Argentina se sagrou campeã. A casa, pintada de azul e branco, é apenas um exemplo do fascínio. “Não tem como eu torcer pelo Brasil, não tem jeito. Todo mundo aqui pega no meu pé, tira onda, mas eu não ligo”, conta Felipe, que guarda com carinho a bandeira que ganhou de um cônsul argentino.
O estádio do Boca Juniors, La Bombonera, inspirou o dono de uma loja de doces na cidade – que virou ‘La Bomboniere’. Fábio Carvalho garante que torce pelo Brasil e que foi o folclore criado na cidade que o fez adotar o nome. “Eu não sou daqui, mas quando meus amigos ligavam e eu dizia que estava em Buenos Aires, eles perguntavam se era na Argentina. Resolvi aproveitar”, conta.
Rivalidade
Nem todos na cidade gostam dessa paixão pela Argentina. O sacristão da Igreja de Nossa Senhora do Bom Parto, Manoel de Santana, é do time que não vê motivos para querer se assemelhar aos argentinos. “Só temos o nome igual, não precisa de mais nada parecido, não”, defende.
Severino Pereira não gosta nem de ouvir comparações entre as cidades (Foto: Katherine Coutinho / G1)Severino Pereira não gosta nem de ouvir comparações
entre as cidades (Foto: Katherine Coutinho / G1)
O mototaxista Severino Pereira não gosta nem de ouvir comparações entre sua cidade e a dos hermanos. “Eu sou brasileiro, tenho que torcer é pelo Brasil. Não podemos esquecer que estamos no Brasil, não na Argentina”, reclama. “Tem gente que põe até o nome dos filhos de jogador de lá. É tudo doido. A gente só tem parecido alguns times. Só”, afirma, categórica, a estudante Gleyse Kelly.
Torcedor ferrenho da Argentina, o mensageiro Edjan da Silva não se abala com as críticas. “Eu já estive lá na outra Buenos Aires. As duas são muito diferentes, nem as cores das casas são iguais. É muito bonita, mas prefiro a minha”, conta o mensageiro, que, entretanto, diz não ter dúvidas de que, na Copa, vai estar com a camisa azul clara e branca.
A vendedora Franceneide da Silva e a filha, Laísla Maria, preveem confusão para o próximo Mundial. “Na última Copa, teve até polícia para separar briga. O pai torce pela Argentina, mas eu acho um absurdo”, conta Laísla. “Fica uma divisão. Eu mesma entreguei uma mala vazia para o meu ex-marido, para arrumar para a seleção dele ir embora quando a Argentina perdeu”, diz Franceneide.
Foi na capela de Santo Antônio, na entrada de Buenos Aires, que padre comparou clima das cidades (Foto: Katherine Coutinho / G1)Reza a lenda: foi na capela de Santo Antônio, na entrada de Buenos Aires, que padre comparou clima das cidades (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Jacu
Originalmente, a pequena vila de Buenos Aires tinha o nome de Jacu, devido a um pássaro típico da região. Quando foi transformada em cidade, pelo então governador Miguel Arraes, em 1963, assumiu o nome do engenho que deu origem à cidade: Buenos Aires. “Foi um padre que escolheu esse nome. Ele estava lá na frente da igreja e disse: ‘Que bons aires’. Ficou”, conta o funcionário público Jadiel Felipe.
Alguns dizem que o padre Manoel Gonçalves era argentino, outros que o religioso tinha apenas morado um tempo na Argentina e achou o clima das duas cidades parecidas. “Durante o dia, aqui é muito quente, mas à noite esfria com vontade. Surpreende muita gente”, diz Araújo.
Estádio 'La Bombonera' inspira nome de loja de doces em Buenos Aires, PE (Foto: Katherine Coutinho / G1)Estádio 'La Bombonera' inspira nome de loja de doces em
Buenos Aires, PE (Foto: Katherine Coutinho / G1)
O chefe de metereologia da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), Patrice Oliveira, explica que a cidade brasileira pode até lembrar a vizinha. “A gente tem microclimas por causa da altitude. Quando chegamos no período do inverno, o frio e a umidade são parecidos com certas regiões que têm bem definidas as quatro estações do ano. Nessas cidades, as características são a temperatura e a serração, que fica como se as nuvens estivessem muito baixas. Mas só nesse período do inverno que [o clima] lembra [o de outras cidades]”, explica.
O folclore é maior que a semelhança, garante o prefeito do município, Gislan Alencar. “Não tem nada a ver uma cidade com a outra. Lógico que, pelo turismo, a gente incentiva e mantém contato com o consulado. Recebemos muitos turistas aqui curiosos para conhecer a cidade, mas só o nome é igual mesmo.
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