quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Viagem sem volta: brasileiros estão dispostos a deixar a Terra para ir a Marte


Por Redação 
Marte

Um desses projetos é o da fundação holandesa Mars One, que se propõe a enviar voluntários ao planeta vermelho a partir de 2025. Qualquer pessoa pode se candidatar, desde que aceite as consequências dessa escolha, já que é uma viagem apenas com passagem de ida e sem possibilidade de retornar à Terra. E a paixão pelo espaço não é exclusividade de nações mais desenvolvidas, como os Estados Unidos e a China, mas também as latino-americanas: pelo menos setenta pessoas integram a lista de mil candidatos de todo o mundo que vão participar da segunda fase do processo seletivo da Mars One.Apesar de tecnologias para lá de futuristas estarem aqui na Terra, como o Google Glass e o Oculus Rift, a principal e mais desejada evolução está mesmo é no espaço. A Lua já foi "colonizada", e um grupo de astronautas habita uma apertada estrutura no campo gravitacional, a Estação Espacial Internacional (ISS). Mas os planos da humanidade vão além e começam a ganhar força com a ajuda de pessoas dispostas a povoar outros planetas.
Países como Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, El Salvador, Guatemala, México, Peru, República Dominicana e Uruguai possuem homens e mulheres de idades diferentes que estão dispostos a abandonar a família, os estudos, o trabalho e toda a vida aqui na Terra para se mudar para Marte, a 570 milhões de quilômetros de distância. Daqui 11 anos, 24 pessoas começarão a ser enviadas ao planeta vizinho, em grupos de quatro astronautas a cada dois anos - ou seja, os últimos tripulantes embarcam só em 2035.
O brasileiro Manoel Belém é um dos voluntários brasileiros que figuram entre as mil pessoas selecionadas no mundo todo pela Mars One. Manoel tem 58 anos, é físico, piloto formado e redator de um blog de poesias, afirma que quer deixar a cidade de São Paulo e ir ao planeta vermelho "para alimentar a alma". "Quando a gente tem espírito científico, nada melhor do que esta oportunidade de conhecimento e experimentação", disse o físico à agência de notícias AFP. Ele se considera apto para ser um dos escolhidos pela startup holandesa e que não tem muita importância ser uma viagem só de ida, mesmo que ele esteja na casa dos 70 anos.
Manoel Belém
Manoel Belém, físico brasileiro, é um dos setenta latino-americanos que querem ir para Marte. (Foto: AFP)
Outro latino-americano na fila é o urugaio de 27 anos Yuri López, ex-integrante de uma tropa de elite da polícia em seu país e que atualmente trabalha em uma empresa de tecnologia. Assim como Manoel, Yuri não se sente incomodado com a ideia de nunca mais voltar à Terra. "Eu iria com uns 37 anos, se estivesse entre os primeiros quatro, com um monte de coisas vividas, para terminar meus dias em um horizonte completamente diferente. A expansão do ser humano no universo é fundamental", disse.
Todos os aprovados para a segunda fase do projeto tiveram que demonstrar cinco qualidades-chave para avançar no processo de seleção: resistência, adaptação, curiosidade, habilidade para confiar nos outros e criatividade. E eles sabem dos riscos que correm. Assim que chegarem em Marte, os primeiros colonos terão que viver em pequenas cápsulas, encontrar água, produzir oxigênio e cultivar os próprios alimentos. As condições e as paisagens do planeta vermelho lembram um grande deserto, no qual a atmosfera é constituída de dióxido de carbono e onde a temperatura média é de -63º C.
"Um monte de coisas pode dar errado e isso dá mais tempero à missão, que é a aventura máxima da humanidade, do meu ponto de vista", disse López. "Eu vejo isto como algo épico. Penso que estas primeiras quatro pessoas que forem terão uma tarefa similar à que teve Cristóvão Colombo ou Magalhães, de partir rumo a um destino que não conhecem. E serão lembradas por toda a História".
No entanto, alguns candidatos enxergam uma oportunidade do homem se expandir para outros territórios. Para o legislador mexicano Andrés Eloy Martínez Rojas, colonizar Marte representa uma segunda chance para a humanidade, que poderia, assim, "desenvolver outra economia, outro estilo de vida que poderia, inclusive, beneficiar a Terra" diante dos problemas de superpopulação e aquecimento global.
"Marte é a oportunidade de nos revalorizarmos como sociedade para começarmos a nos reinventar e não cometer os mesmos erros", declarou Andrés, deputado do esquerdista Partido da Revolução Democrática (PRD) do México. "A ideia seria chegar a Marte e desenvolver uma nova sociedade, uma nova civilização em harmonia com a natureza". Andrés tem 50 anos e é pai de seis filhos que imploram para que ele repense sua decisão.
Até agora, as únicas missões em Marte envolvem robôs altamente sofisticados, e todas elas foram realizadas com sucesso pela Agência Espacial Americana (NASA). O mais famoso é a sonda Curiosity, que percorre o planeta vermelho desde o dia 6 de agosto de 2012. O equipamento já fez grandes descobertas que animam cientistas e astronautas a povoar Marte, entre elas a descoberta de que o local já foi propício à vida microbiana em um passado longínquo. Nesta semana, também foi anunciado que o veículo encontrou fortes evidências de que ainda existe água líquida fluindo no planeta.
"O objetivo final de tudo isto é tornar Marte mais adequado aos humanos e, desta forma, estarmos em dois planetas, nos quais os humanos possam se ajudar de forma mútua", disse Julián Aguilar, um argentino de 24 anos aspirante a colono, para quem "é importante dar os primeiros passos" neste sentido. Filho de um piloto da aeronáutica, ele se diz um apaixonado pelo universo e pela possibilidade de existir vida em outros planetas.
"À noite, ao olhar as estrelas, penso no quão insignificantes são os problemas cotidianos das nossas vidas. E isso é o que me dá forças para seguir adiante com o projeto e deixar tudo para trás, não por individualismo, mas pela raça humana", afirmou.
Para muitas pessoas, talvez seja difícil acreditar que humanos possam habitar outros planetas e, de fato, seja uma situação um tanto distante da nossa realidade. Mas a ciência mostra que não é algo impossível. E projetos como a Curiosity e o da Mars One comprovam que Marte é só o começo de uma longa jornada rumo ao infinito do universo.
O Canaltech conversou com alguns dos prováveis tripulantes da Mars One, logo na época em que o projeto foi anunciado. Veja:


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