Pacientes são atendidos no chão no Hospital Salgado Filho Cremerj / Divulgação |
De acordo com um profissional de saúde, que pediu para não ser identificado, a sala vermelha da emergência — que recebe pessoas graves — tem capacidade para atender de 10 a 12 pacientes. No entanto, não é raro as vezes que o lugar abriga de 25 a 30 doentes. Segundo ele, os casos de pacientes deitados no chão são de pessoas que sofreram uma parada cardíaca ou estavam com a pressão muito baixa. Elas precisavam ser atendidas deitadas, mas não havia leitos disponíveis. Segundo os médicos, a emergência ficou ainda mais sobrecarregada após a desativação de 12 leitos de clínica médica pela falta de médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem.
— Os atendimentos na bancada ou no chão não são pontuais. Eles já se tornaram rotina. A sensação é a pior possível. Os pacientes atendidos dessa maneira não têm a menor dignidade — contou o profissional de saúde.
Conforme o Cremerj, em alguns plantões, a emergência do hospital conta com apenas um clínico de plantão quando o ideal seriam seis. De acordo com Sidnei Ferreira, a emergência é o setor do hospital que mais preocupa devido à constante superlotação e às condições precárias de trabalho dos profissionais. O presidente do Cremerj ressaltou ainda que a situação já foi levada várias vezes à Secretaria municipal de Saúde, porém, nada foi feito. O órgão também denunciou os problemas para o Ministério Público Estadual e a Delegacia do Consumidor. O MP informou que já instaurou uma ação civil pública e um inquérito civil para investigar as deficiências de atendimento no Salgado Filho.
— Os médicos não podem ser responsabilizados por esse descaso e a população merece um atendimento de qualidade. O Sistema de Regulação de Vagas do hospital não funciona e os profissionais fazem o que podem. Lugar de paciente não é no chão, mas quem está lá trabalha em condições indignas para salvar vidas — disse Ferreira lembrando que a situação flagrada nas fotografias já foi encontrada na unidade em fiscalizações: — A Secretaria municipal de Saúde é ciente desse quadro e não resolve nada.
Presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, também tem conhecimento da maneira que pacientes são atendidos no Salgado Filho. Para ele, a realidade do hospital é de um ambiente “degradado” e “inadequado”. Darze também acredita que a unidade funciona acima do limite da sua capacidade:
— O que a prefeitura está fazendo é a flagrante violação da legislação brasileira. Esse atendimento é algo que fere a dignidade da pessoa humana.
A Secretaria municipal de Saúde informou que aguarda o encaminhamento das fotos feitas pelos profissionais de saúde no Salgado Filho para apurar o ocorrido e se pronunciar sobre o assunto. Em nota, a SMS explicou: “O Hospital Municipal Salgado Filho trabalha com política de portas abertas e todos os pacientes que procuram a unidade e são avaliados na classificação de risco como graves e recebem atendimento na emergência. Desta forma, em dias de maior demanda, pode funcionar em condições além das ideais.”
Sofre funcionar como emergência referenciada, a secretaria alegou que fechar as portas do setor significaria negar atendimento às pessoas que chegam espontaneamente à unidade em busca de socorro médico. “A Secretaria Municipal de Saúde não compactuará com uma medida arbitrária como essa, que prejudique a população.”
De acordo com o planejamento da secretaria, o Salgado Filho será o próximo a receber as melhorias já implantadas nas outras unidades da rede. Entre as ações desenvolvidas para melhorar o atendimento no local está a implantação do Programa de Atendimento Domiciliar ao Idoso. Com ele, os pacientes são atendidos em casa, evitando novas internações e desafogando os leitos da unidade. Além disso, segundo a SMS, uma Coordenação de Emergência Regional (CER), ao lado da unidade, estará em funcionamento ainda nesta gestão.
O Globo
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