Reuters Brasil
Relatório da ONU aponta aumento de 36% na área de cultivo e de 49% no número de províncias.
O
cultivo e a produção de ópio no Afeganistão atingiu níveis históricos
em 2013, de acordo com um relatório das Nações Unidas divulgado nesta
quarta-feira.
É um dos maiores fracassos da presença das forças da NATO no país, com
a passagem da responsabilidade pela segurança para as autoridades
afegãs a apenas um ano de distância. Um diplomata de um país ocidental,
citado pelo The New York Times sob a condição de anonimato, resume tudo numa única frase: "Falhámos e perdemos, não há mais nada a dizer."
De acordo com o relatório,
a área de cultivo de ópio no Afeganistão cresceu de 154.000 hectares
para 209.000 hectares, um aumento de 36% em relação a 2012. O
número de províncias que cultivam ópio também registou um aumento
substancial – em apenas um ano, são agora 19 num total de 34, o que
equivale a um crescimento de 49%.
"À medida que nos
aproximamos de 2014 e da saída do país das forças internacionais, os
resultados do Relatório sobre o Ópio no Afeganistão 2013 devem ser
entendidos como aquilo que são – um aviso e um apelo a uma acção
urgente", disse Iuri Fedotov, director-geral do Gabinete das Nações Unidas sobre Drogas e Criminalidade.
Para
além da perda de controlo sobre o cultivo e a produção, o Afeganistão
sente também os efeitos do consumo dentro de portas – o país que
fornece a quase totalidade da heroína que circula em todo o mundo
regista já 5% de consumidores de drogas entre a sua população, uma das
taxas mais elevadas a nível mundial.
O
problema agrava-se com as visões distintas das autoridades afegãs e de
países como os Estados Unidos. Enquanto Cabul defende um combate à
procura nos países em que o consumo de heroína é mais elevado,
Washington concentra os seus esforços no combate ao cultivo e à
produção no Afeganistão – desde 2001, os EUA gastaram seis mil milhões
de dólares (4,4 mil milhões de euros) em programas deste tipo.
Para
além das divisões nas políticas de combate à produção e ao consumo de
drogas, o cultivo de ópio no Afeganistão tem crescido graças à
influência dos taliban. Esta influência – mais notória em províncias
como Kandahar e Helmand, no Sul do país – levou ao fim do envolvimento
das forças da NATO em programas de erradicação de cultivo, devido aos
receios de que a insurgência ganhe mais apoiantes entre os agricultores
locais. Para além do apoio e
protecção ao cultivo de ópio, os militantes taliban têm nesta
actividade uma das suas maiores fontes de receita, através da imposição
de uma taxa de 10% aos produtores.
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