“Retrato: substantivo feminino” é um projeto de criação coletiva em foto e vídeo idealizado por Laura Tamiana e Tatiana Devos Gentile. Desde 2009, elas trabalham com mulheres ligadas a tradições culturais no Brasil, de diferentes gerações. A partir do encontro, elas confeccionarem retratos, que são exibidos como intervenções urbanas. Integram o projeto 25 mulheres, de 13 a 95 anos, do Cavalo Marinho (PE), Reinado (MG) e Batuque de Umbigada (SP). As intervenções iniciam nesta quinta- feira (28) em Condado, e segue até o próximo sábado (02), e Recife, de 8 a 10 de março.
O Projeto nasceu em Pernambuco, durante uma residência artística proposta pelas artistas a mulheres ligadas à tradição do Cavalo Marinho, em Condado, na Zona da Mata Norte. De lá pra cá, cresceu e ganhou a estrada: foram realizadas mais duas residências com mulheres ligadas a outras tradições culturais, uma exposição no SESC São Paulo, um grande encontro entre todas as mulheres envolvidas, intervenções em diversas cidades no Brasil e também na França. Neste mês de março, será exibido pela primeira vez em Recife (local de residência de uma das artistas, Laura) e retornará a Condado, sua origem, coroando assim quatro anos de realizações.
A intervenção é composta de fotografias em diferentes formatos (monóculos, tecidos impressos); vídeo-retratos de cada integrante, exibidos em um dispositivo em forma de “caixinha”, para visualização individual; correspondências em vídeo trocadas pelas integrantes de um local a outro do país; e intervenções sonoras criadas pelo músico pernambucano Helder Vasconcelos, a partir dos sons gravados durante as residências.
As exibições em Pernambuco são realizadas pelas artistas de forma independente e fazem parte de uma contrapartida oferecida ao edital de Concessão de Passagens do Ministério da Cultura, que em 2012 contemplou o trabalho viabilizando sua participação no festival francês FIDÉ – Festival International du Documentaire Étudiant.
O PROCESSO – A produção das obras que integram o projeto se deu ao longo de três residências artísticas realizadas por Tatiana e Laura junto às mulheres ligadas às tradições culturais. “O ponto de partida do trabalho é o encontro, um encontro de olhares, de histórias, de percepções, de tempos. O retrato é proposto como processo lento e cuidadoso de fabricação de um olhar, de uma subjetividade. Retrato como forma de contar uma história”, explica Tatiana.
As artistas propuseram que as mulheres realizassem os retratos em foto e vídeo a partir da ideia de uma “caixinha pessoal”, aquela caixinha onde se guardam as coisas mais preciosas, um objeto da infância, uma carta, um retrato. Durante as residências artísticas, por meio de motes como “1 amor em 3 imagens” e “3 partes do corpo”, cada integrante foi compondo sua “caixinha”, feita daquilo que é mais precioso para si, só que na forma de fotos e vídeos.
Mesmo estando na posição de propor e estimular a atividade, as artistas integraram a realização das atividades como todas as demais, já que a proposta era uma troca, uma descoberta mútua. Interessa às artistas descobrir e revelar como mulheres de diferentes universos e de diferentes gerações se ligam por fios comuns, costurados cuidadosamente a partir de possíveis encontros.
“A partir do encontro no coletivo – que é também a base das tradições populares –, a feitura dos retratos propõe olhares, recortes sobre as individualidades. E é a partir das individualidades reveladas que se pode chegar novamente ao coletivo, pelo fio que desenha um possível substantivo ‘feminino’,” diz Laura Tamiana. As tradições foram a porta de entrada, mas o projeto tem como foco principal as histórias de vida dessas mulheres. Permitir que cada uma delas possa, a partir do encontro com as demais, revelar sua própria história é um dos diferenciais do trabalho.
As três residências artísticas que deram origem ao material da intervenção aconteceram entre os anos de 2009 e 2011 e foram realizadas graças ao Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura, da Funarte/Minc. A primeira delas foi realizada em 2009 em Condado, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, com mulheres do entorno do Cavalo Marinho, tradição característica da região e predominantemente masculina. A segunda residência aconteceu em 2010 no bairro Concórdia, em Belo Horizonte, com mulheres do Reinado, integrantes da Guarda de Congo e Moçambique de Nossa Senhora do Rosário Treze de Maio e da Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosário São Jorge. A terceira residência aconteceu este ano, nas cidades de Piracicaba e Capivari, em São Paulo, com mulheres do Batuque de Umbigada.
Para a realização de cada residência, Tatiana e Laura se deslocam de suas localidades (Rio e Recife, respectivamente) e residem durante três meses onde está o grupo de cerca de 10 mulheres que são convidadas a participarem do projeto; ao final do período, o material produzido naquela residência é exibido na localidade em forma de intervenção urbana. Além disso, as artistas também propuseram uma troca de correspondência em vídeo entre as mulheres de uma e de outra localidade. Após a realização das 3 residências, as artistas realizaram um grande encontro entre todas as integrantes (na cidade de São Paulo, em 2011), permitindo que se conhecessem e trocassem sobre suas experiências. Coroou o encontro uma exposição em uma unidade do SESC SP, que posteriormente se desdobrou na intervenção que visitará Pernambuco.
Serviço:
RETRATO: SUBSTANTIVO FEMININO
Condado, de 28 de fevereiro a 2 de março
>>Quinta (28/2), das 16h às 20h, no terreiro de Nice do Cavalo Marinho (Novo Condado)
>>Sexta (1/3), das 16h às 20h na Rua da Prefeitura
>>Sábado (2/3), das 7h às 11h, na Feira Livre
Recife, de 8 a 10 de março
>>Sexta (8/3), das 16h as 21h, em frente ao bar do Seu Vital (Igreja do Poço da Panela)
>>Sábado (9/3), das 8h as 13h, em frente ao Mercado de São José (Praça Dom Vital – São José)
>>Domingo (10/3), das 16h as 20h, na Praça do Arsenal (Bairro do Recife)