Um padre simpático, atencioso com os fiéis e que percorre várias cidades do Agreste de Pernambuco para celebrar missas. Belmiro Humberto, de 75 anos, seria mais um entre tantos outros homens que possuem o mesmo ofício que ele dentro da Igreja Católica, não fosse por um detalhe – ele é pai.
Convivendo com a batina há 13 anos, padre Humberto integra a Diocese de Caruaru e tem duas filhas, um filho, seis netos e uma bisneta. Mas, para os mais desavisados, o idoso faz questão de explicar que seguiu a vida sacerdotal só depois que ficou viúvo. “Eu vivi com a minha esposa 32 anos, 4 meses, 24 dias, 19 horas e 30 minutos. Graças a Deus a gente se deu muito bem, foi um casamento muito feliz. Dessa união vieram três filhos. Ela descobriu um câncer no pâncreas e depois só teve apenas nove meses de vida”, relembrou o padre ao ver fotos do álbum de família, na casa onde hoje mora sozinho, na cidade de Gravatá, a 84 quilômetros do Recife.
Desde pequeno ligado ao catolicismo, padre Humberto conheceu a esposa na igreja, em Caruaru, e se casou com ela na década de 1960. Antes do falecimento da mulher, em 1997, ele já tinha pensado na possibilidade de se tornar padre. “Só ela sabia que eu iria ser padre. Comecei a descobrir a minha vocação quando percebi que nada nos pertence, tudo é de Deus. Então, me dispus a ser padre”, contou. Ele se formou em Filosofia em Caruaru e logo em seguida entrou para o seminário.
Padre Humberto relembra como avisou aos filhos da decisão religiosa. “Pouco depois que minha mulher morreu, eu cheguei em casa e disse ao meus filhos: ‘encontrei uma mulher e vou me casar’. Eles estranharam e perguntaram se ela era do bairro. Eu disse que era do bairro e de todo o lugar. Eles perguntaram se era conhecida. Eu disse: ‘vocês conhecem; ela é a minha fé. Vou ser padre’”. O apoio familiar foi fundamental para Humberto. “Meu filho disse ‘papai, qualquer decisão que o senhor tomasse na sua vida nós iríamos aceitar. A única coisa que nós queremos é ver o senhor feliz, que o senhor não perca esse sorriso’”.
O amor dos filhos fez com que o padre escrevesse o livro “Minha família, minha vida”, que já está na 3ª edição. “Os filhos, para mim, são uma benção. A minha vocação de padre não me impediu nem me impede de ficar perto deles”, disse o padre, citando a frase de Santa Terezinha, de quem é devoto: “As grades do convento não vão me afastar daqueles que amo”. Além da obra, ele escreveu também “Um casamento feliz, um padre realizado”, publicado em 2009.
Padre Humberto já morou com a família em muitas cidades pernambucanas. Atualmente o filho mais velho vive em Petrolina, no Sertão, e as duas filhas moram em Gravatá, em casas próximas à do pai. “Ele é nosso orgulho. Não é qualquer um que tem um pai como ele. Considero um milagre”, disse a filha do meio, a professora Maria das Graças. Os dois filhos dela, Gleidson Daniel, de 12 anos, e Gabriela Maia, de 15, também acreditam que o avô é especial. “Ele é uma pessoa muito sábia. Dá muitos conselhos pra gente, ensina a pescar, nadar”, contou Gabriela. “Ele é quase como um pai. Quando a gente está na missa, ele fala da gente e todo mundo quer nos ver”, afirmou Daniel.
Neste Dia dos Pais, o pai-padre planeja reunir a família e sair para almoçar. “A gente sempre dá um presentinho, um cartão. Antes até fazia bolo, mas agora ele não pode mais comer doces, por causa da saúde”, contou a filha.
Estranhamento e rotina
Pela comunidade da igreja, padre Humberto diz que é visto com curiosidade. “Em algumas pessoas, quando estou celebrando a missa e falo dos filhos, eu noto um gesto de desdém, mas imediatamente digo que tenho filhos e netos porque minha mulher morreu e que fui ao seminário me ordenar padre”. Mas, em geral, o religioso conta que recebe muito carinho das pessoas. “Eu poderia ter me casado de novo, não quis. Poderia ter construído outra família, mas preferi ter essa família imensa que são os fiéis.”
O padre afirma que não existe nenhum impedimento na realização de sacramentos dentro da Igreja por ele ter filhos. “Todos os sacramentos da Igreja eu ministro: casamento, batizado, inclusive fiz o casamento do meu filho. Agora sou o único padre da Diocese de Caruaru que tem filhos. A Igreja Católica não faz restrição para padres viúvos. [Quando me tornei padre] os meus filhos já estavam todos criados, não tinha ninguém que dependesse de mim.”
Perguntado sobre a possibilidade de a Igreja Católica um dia permitir que padres se casem, Humberto diz não acreditar que isso seja correto. “A Igreja não obriga nenhuma pessoa a casar ou ser padre. É algo espontâneo, uma opção pessoal. Se você for casado, ou você vai agradar sua mulher ou vai agradar a Igreja, os dois você não vai agradar”, enfatizou.
A rotina de trabalho do padre é puxada. Muitas vezes é preciso viajar o interior pernambucano para celebrar missas. No dia em que recebeu a reportagem do G1, o padre celebrou três missas, e em cidades diferentes, como Bezerros. “Tá pensando que vida de padre é fácil?”, brincou o disposto religioso.
Com informações do G1
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