Cura de problema congênito no coração foi atribuído a Nhá Chica.
Apesar de ligada à igreja, ela não pertencia a nenhuma ordem religiosa.
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Curada há 17 anos de um problema congênito no coração, que provocava uma hipertensão pulmonar, a professora aposentada Ana Lúcia Leite, de Baependi (MG), não se cabe em alegria. Na manhã desta quinta-feira (28), o Papa Bento XVI assinou o decreto reconhecendo que a cura não tem explicação científica e que ela se deu por intercessão de Nhá Chica. A notícia veio no dia do aniversário de 67 anos da professora que motivou o estudo da igreja.
"É uma alegria justo no dia do meu aniversário. É um presente de Deus, dos Ceús, da minha Santa. Hoje o Vaticano só veio confirmar aquilo que eu já carregava no coração, que foi a santa responsável pela minha cura", disse por telefone ao G1 a professora.
Desacreditada pelos médicos, Ana Lúcia protelou a cirurgia a que seria submetida. Depois de seis meses, veio a notícia de que ela estava curada.
"Os médicos diziam que provavelmente eu não resistiria à cirurgia. Eu fui adiando, adiando e me agarrei com minha santa. Depois de meses fiz novo exame que já mostrava que meu coração estava bom, que o sangue estava correndo pelos caminhos certos, que eu estava curada", disse ela emocionada.
Durante todo o dia, fiéis lotaram o Santuário de Conceição, que começou a ser erguido por Nhá Chica, para rezar e agradecer a notícia. O processo de beatificação começou em 1993 baseado em outros relatos de fiéis. O milagre reconhecido nesta quinta-feira pelo Vaticano só veio a acontecer dois anos depois, em 1995. Segundo a relações públicas do processo de beatificação, Yolanda Aparecida Fernandes, o anúncio só vem confirmar o que os fiéis já esperavam
"Há 117 anos os fíeis vêm até esta igreja para rezar por Nhá Chica. Em vida, ela já era chamada de santa. Hoje é um dia muito importante para todos", disse ela.
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Apesar da assinatura do Papa Bento XVI, o processo de beatificação ainda não foi concluído. Segundo a Cúria Diocesana de Campanha, que cuida do caso, a Venerável Nhá Chica só poderá ser considerada beata depois que o bispo Dom Diamantino Prata de Carvalho realizar a celebração, ainda sem data marcada, em Baependi. A partir desta quinta-feira, serão três dias de missas e novenas. Nhá Chica será a primeira beata do Sul de Minas.
Nhá Chica
Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, era negra e filha de escrava. Nasceu em São João Del Rei (MG) em 1810 e morreu em 14 de junho de 1895 em Baependi, onde dedicou a vida às obras da igreja e também a ajudar os necessitados. Como era analfabeta, as pessoas liam para ela as escrituras sagradas. Nhá Chica foi enterrada no interior do Santuário Nossa Senhora da Conceição, que ela mesma ajudou a erguer. Os restos mortais estão em uma urna no mesmo santuário.
Em 1992, quase 100 anos após a morte de Nhá Chica, começou o processo de beatificação da mulher, que apesar de ligada à igreja, não pertencia a nenhuma ordem religiosa. No entanto, era preciso um milagre documentado para que ela postulasse o título da igreja católica. Três anos depois, os responsáveis pelo processo conseguiram o feito, através do caso da professora aposentada Ana Lúcia Leite. A documentação foi enviada para Roma e após médicos e autoridades do Vaticano estudarem o caso, a igreja concluiu que realmente a cura foi um milagre.
Nhá Chica foi reconhecida oficialmente como "Serva de Deus" e depois "Venerável". Agora foi a vez do Papa Bento XVI reconhecer o milagre, através da assinatura do decreto de beatificação. A fama de Nhá Chica leva milhares de romeiros todos os anos ao santuário da cidade. A casa onde ela viveu também é visitada pelos fiéis, assim como o memorial dedicado a ela
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