José Morais tem 25 anos de experiência em pesquisas na França, Bélgica, Portugal e Brasil e é um dos palestrantes em encontro sobre educação em Piedade
As técnicas brasileiras de alfabetização são obsoletas, ineficientes e já foram abandonadas pelos países desenvolvidos há quase uma década. Quem diz é um especialista no assunto: o português José Morais(fotos), professor emérito da Universidade Livre de Bruxelas, que tem 25 anos de experiência em pesquisas na França, Bélgica, Portugal e Brasil. Ele é um dos participantes do seminário Alfabetização: evidências internacionais sobre o que melhor funciona, que discute os desafios da alfabetização no Brasil no hotel Golden Beach, em Piedade, nesta quarta-feira (10). A brasileira Tatiana Pollo é a outra palestrante.
Três estudos comprovam que o ensino brasileiro – embora tenha obtido progressos visíveis – continua tirando notas baixas. No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), que mede a qualidade do ensino nas escolas públicas, Pernambuco ficou com nota 4,1, abaixo da média nacional que é de 4,4. Já o exame de leitura do Programa Internacional de Avaliação de Alunos, feito dois anos atrás, coloca o Brasil na posição de número 54 entre 65 países examinados. É um dos últimos colocados, atrás de outros países da América Latina, como Colômbia, Chile e México. Por fim, um levantamento do Ministério da Educação feito em 2009 e divulgado no ano passado mostra que 40% dos alunos do 5º ano não sabem ler.
Para José Morais, “é uma situação terrível. Porque normalmente crianças brasileiras deveriam poder ler no fim do primeiro ano quase todas as palavras e pequenos textos, compreendendo esses textos", afirma.
CAUSAS
Para ele, há duas causas para esse problema: uma é cultural e a outra é pedagógica. A cultural tem a ver com o ambiente em que o estudante vive. “Estudos mostram que nas casas onde existem mais de 500 livros, onde os pais leem, mostram que leitura é importante, isso está muito relacionado com o nível de educação que as crianças atingem”, conta Morais.
PEDAGÓGICA
A outra causa é a pedagógica. Em dois grandes simpósios científicos realizados em São Paulo, com meia centena de palestrantes de seis países, as primeiras conclusões indicam que a eficiência da teoria construtivista, base de toda a educação brasileira, não é comprovada por estudos feitos em vários países nos últimos vinte anos. As pesquisas defendem a importância da consciência fonológica – perceber como as palavras se dividem em diferentes sons e de desenvolver a capacidade de relacionar letras aos sons correpondentes.
"Há coisas que têm que ser explicadas e mostradas às crianças, como o princípio alfabético. Aprendemos a ler usando o alfabeto, que representa a linguagem num determinado nível. É preciso ensinar o mecanismo, as crianças não aprendem por si mesmas", afirma José Morais. O professor avisa que não vive o Brasil e não pode dizer exatamente como se ensina aqui, mas conhece o suficiente para tirar algumas conclusões. “Acho que não há uma formação suficiente. O que já concluí dos contatos que tive é que eles [os professores] não foram formados com uma boa metodologia”, analisa.
O professor defende a repetição, o ditado, como método de ensino. "Através da repetição a criança vai criar na memória, naquilo que nós chamamos um léxico ortográfico, as representações das palavras". Para ele, no quinto ano já devemos ter criado essas tais representações para muitas palavras, então já não precisamos decodificar. É aí que torna-se importante a prática da leitura.
AVALIAÇÃO
O outro ponto que ele considera importante é a forma como a criança é avaliada. “Avaliação tem que ser fundamentada cientificamente, deve ajudar a criança e ajudar o professor a compreender onde está o problema da criança. Então, para isso, é preciso fazer testes que não deem apenas uma nota global, mas uma ideia do perfil. Não tem importância se é de 0 a 10 ou A, B, C. O importante é dizer onde a criança está lendo mal. Será que ela é capaz de decodificar? Será que ela está decodificando rápido? Será que já criou as tais representações mentais?", questiona
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