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O radialista Gino César, apresentador dos programas Plantão de Polícia e Bandeira 2, da Rádio Jornal FM/AM (780), faleceu na madrugada desta terça-feira (17), aos 79 anos, no Recife. Gino estava internado desde o dia 4 deste mês no hospital Hapvida, no bairro do Espinheiro, e, na noite dessa segunda, o estado de saúde dele piorou e o radicalista foi transferido para a UTI, onde faleceu por volta das 2h30, vítima de infarto.
O radialista já havia sofrido um outro infarto no meio do ano, quando passou por cateterismo e colocação de dois stents. Na época, ficou internado por 21 dias. No ano anterior, o radialista havia sido internado com sintomas de cansaço, quando foi diagnosticado com edema agudo no pulmão. A família ainda não decidiu o local do velório nem do enterro.
Joaquim José da Silva, como foi registrado em cartório, nasceu no município de Rio Formoso, na Zona da Mata pernambucana. Ele adotou o pseudônimo Gino César na época em que era ator de radionovela, nos anos 50. O interesse pelo gênero começou ainda era criança, por volta dos 12 anos de idade. Como radio-ator, interpretou papéis infantis, galãs e participou de radionovelas religiosas.
A oportunidade de noticiar temas policiais apareceu em um plantão de Carnaval na Rádio Jornal, na década de 60. Passado o período, Gino recebeu a proposta de continuar com flashes sobre o assunto. O nome do programa, “Bandeira 2”, surgiu por causa da grande quantidade de assaltos a taxistas durante a madrugada, quando é cobrada a tarifa bandeira 2.
Durante os mais de 30 anos que trabalhou na Rádio Jornal – onde conseguiu a maior audiência do Brasil -, Gino enfrentou ameaças de morte e atentados. A casa e o carro do radialista chegaram a ser alvo de balas. Quando questionado sobre o assunto, dizia que, coincidência ou não, as ameaças apareciam após denúncias contra a má atuação de policiais.
Para apuração e leitura das matérias, Gino nunca usou computador. Não se incomodava de redigir tudo em uma máquina de datilografar. Mesmo com a escassez no mercado, conseguia comprar as fitas em livrarias. Confiava na máquina que já conhecia.
A forma “cantada” como narrava os crimes de homicídio era reconhecida pelos ouvintes. Uma vítima que levou “saraivada de balas” e “tombou em via pública”, suspeitos que fugiram “em desabalada carreira” e “Atenção” – este seguido de uma música de suspense – eram alguns dos chavões característicos do locutor. “Criei um estilo para ficar diferente de todo mundo. Hoje as pessoas procuram imitar o que eu faço”, revelou, em entrevista ao Jornal do Commercio.
Muito simpático, era conhecido por seus chapéus, uma marca registrada. Tinha centenas deles. “Estava apurando informações em uma delegacia quando um dos agentes colocou um chapéu na minha cabeça. Saí de lá direto para a rádio. Quando cheguei ao estúdio, percebi que todos olhavam para mim. Acabei gostando da situação e passei a usar o chapéu dia e noite. Com o tempo, o chapéu ficou velho e deixei de usá-lo. Na primeira delegacia em que visitei, o delegado olhou para mim e disse: ‘Bandeira Dois sem chapéu, não pode’. No outro dia, ele tinha deixado um bonito chapéu dentro de uma caixa para mim”, contou.
Gino era solteiro e deixa três filhos (um homem e duas mulheres) e três netos. Certa vez, foi questionado sobre se tem ideia do que representa para a história do rádio. “É o que dizem”, retrucou modestamente, entre risadas